Não
devemos ingressar na discussão de aspectos mais elevados
e sutis do lila de Radha e Krishna. Isso não
deve ser discutido em público. Essa é a distinção entre
a Gaudiya Math e a sessão sahajiya. Os sahajiyas
estão tentando imitar todas essas coisas, mas nós não
temos fé na imitação. O lila superior virá
pessoalmente, e despertará de modo irresistível. Quando
o programa do estágio de sadhana tiver terminado,
virá automaticamente, espontaneamente. Não é que primeiro
conheceremos a forma e depois chegaremos lá. Essa não
é a política aceita por Guru Maharaj, Prabhupada.
Pujala
raga-patha gaurava-bhange, isso está sempre acima
de nossas cabeças. O prospecto futuro de nossas vidas,
vida após vida, não pode ser concluído tão facilmente.
Devemos pelo contrário fomentar a esperança, a pura
esperança de que um dia seremos levados a esse campo
do serviço com esta idéia: pujala raga-patha gaurava-bhange.
Isso é muito doce. O raga-patha, o caminho
da devoção espontânea, está acima de nossas cabeças.
Somos servos do raga-patha. Estamos em viddhi-marga,
o caminho da prática regulada, sob regras escriturais.
Devemos viver e mover-nos sob a orientação escritural
e sempre mantermos o raga-patha acima de nossas
cabeças. Pujala raga-patha gaurava-bhange.
O
inteiro teor da vida de Guru Maharaj era esse: "Isso é
elevado, muito elevado, e deveremos honrar isso daqui
de baixo." Devemos estabelecer essa concepção, o respeito
apropriado por esse lila superior por todo o
mundo. "Isso é muito elevado."
Existem
muitas coisas atraentes abaixo daquele lila mais
elevado. O encanto e a razoabilidade do plano superior
são o suficiente para convencer uma pessoa a vir para
este lado. Esses lilas devem ser deixados ficar
bem acima de nossas cabeças. Devemos lidar com esses lilas
todos, especialmente madhurya lila, com muito
cuidado.
Certa
vez, Prabhupada fez arranjos para pregar em Vrindavana
durante todo o mês de Karttika. Ele pediu a Bharati Maharaj,
na ocasião, que explicasse o sétimo canto do Srimad-Bhagavatam,
a história de Prahlad. Ele não pediu por narrativas a
respeito de Krishna, Radha, Yasoda ou qualquer coisa de
Vrindavan. "Pregue suddha-bhakti de Prahlad primeiro.
As pessoas estão maduras em sahajiyaismo, na
imitação da devoção. Tente apenas fazê-los compreender,
ingressar no plano de bhakti. Isso é grandioso;
o que dizer do Krishna-lila —isso está longe,
muito acima."
Em
Vrindavana, as pessoas se perguntavam, "O que é isso?
Eles estão explicando o Bhagavatam, pondo de lado o décimo
canto! Eles estão explicando o Sétimo Canto, Prahlada-lila,
a porção inferior de bhakti. Isso é maravilhoso
e estranho!"
Mais
tarde, eu descobri que o próprio Srila Prabhupada falou
vários dias a respeito da linha limite entre Radha-Kunda
e Syama-Kunda. Ele leu e explicou o Upadeshamrita de Srila
Rupa Goswami. Ele não falou a respeito de Srimati Radharani
nem a respeito de Krishna, mas a respeito do Upadeshamrita
–os ensinamentos básicos. Sua atenção estava sempre
focada no básico, porque os frutos virão naturalmente.
"Ponha água na raiz e os frutos virão por si mesmos."
Sentado
entre Radha-Kunda e Syama-Kunda ele não explicou o Bhagavatam
mas o Upadeshamrita. O Upadeshamrita contém a substância
dos ensinamentos de Mahaprabhu na linguagem de Rupa Goswami.
Srila Prabhupada explicou estes tópicos e nada do Govinda-Lilamritam,
ou do Sri Krishna Bhavanamrita de Visvanath Chakravarti.
Os tópicos mais elevados de madhurya lila, os
passatempos amorosos de Radha e Krishna foram deixados
de lado.
Pujala
raga-patha gaurava-bhange. Prabhupada instruiu que
não devemos ir viver em Radha-Kunda, o local mais sagrado
de peregrinação. Certo dia, próximo ao Lalita-Kunda, onde
havia um prédio de um único andar em Svananda Sukhanda
Kunja, ele disse: "Precisamos de um segundo andar, mas
eu não serei capaz de morar lá." Eu perguntei:"Se
o senhor não morar nesse primeiro andar, quem viverá lá?
Qual é a necessidade de mais uma construção?"
"Não,
você não sabe. Pessoas melhores residirão lá: Bhaktivinod
Thakur, Gaura Kishora Babaji Maharaj. Eles morarão lá,
e nós ficaremos no térreo e os serviremos." Novamente,
ele disse: "Eu morarei em Govardhana. Radha-Kunda é o
local mais elevado, o local de nosso Guru Maharaj, de
nossos Gurudevas. Eles viverão lá em conexão íntima com
o lila, mas nós não estamos capacitados para
morar lá. Moraremos em Govardhana, um pouquinho distantes.
Porque teremos de ir e servir a nossos Gurudevas, devemos
ficar por perto, mas não devemos viver em conexão íntima
com eles. Não somos capacitados."
Nosso
Guru não nos permitia que lêssemos livros onde se descrevem
os lilas superiores: Govinda-lilamritam, Tava-kusumanjali,
Ujjvala-nilamani. Ele não nos permitia estudar ou discutir
esses livros. Pelo contrário, ele ficava muito perturbado
se ouvia que alguém estava interferindo com os lilas
superiores contidos nesses livros. Ele não gostava disso.
Eram
três capítulos do Sri Chaitanya Charitamrita que em geral
não nos era permitido discutir plenamente, incluindo a
conversa com Ramananda Raya, onde se lida com o lila
de Radha-Govinda –nós não podíamos lidar com isso.
É claro que o parayana (o cantar consecutivo
de todo o livro) estava tendo lugar, tínhamos que continuar
lendo essas sessões mas sem darmos qualquer atenção ao
lila do nível mais elevado de raga.
Isso era proibido: "Não tente entrar em detalhes aqui.
Isso virá automaticamente, quando for o momento. Não o
torne uma discussão pública. Não o leve aos olhos do público."
Dusta
phala karibe arjjana –Srila Bhaktivinod Thakur
nos alerta de que, se nos aventurarmos a atravessar essa
linha, obteremos apenas um mau resultado. Isso é aparadha.
Os passos são mostrados desde a posição inferior: sraddha,
sadhu-sanga, sravana, kirtana, então anartha-nivritti,
quando as coisas indesejáveis desvanecem. Então vem ruchi,
depois asakti, então bhava-bhakti, o
brotar da devoção verdadeira. Então prema-bhakti
e sneha, mana, pranaya, raga, anuraga, bhava, mahabhava
—galgando esses degraus, devemos nos aproximar do plano
mais elevado.