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Srila Bhakti Siddhanta
Saraswati Thakur
Conversa com a
Sra. Nora Morell,
Visitante da Alemanha

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Devemos ter fé firme na Divindade. Somos absolutos infinitesimais, e é apenas apropriado que nos associemos com o Absoluto. Se nos sentirmos apreensivos (encabulados) de fazê-lo, é provável que nos enredemos com os assuntos efêmeros deste mundo. Aqueles que são amigos estão conosco apenas por um curto período de tempo. Eles nos abandonarão a qualquer momento, quando forem chamados a sair deste mundo.

O que quer que façamos, deveríamos tender a nos associar com a Divindade e não nos envolvermos com qualquer trabalho nosso que tenha objetivos temporários. Dependemos dEle. Por sermos infinitesimais, precisamos ter nossa posição final nEle.

Todas as nossas atividades devem ser rexecutadas para satisfazer exclusivamente aos propósitos dEle. Não é bom que pensemos que temos qualquer outra coisa a fazer. Ao contrário das pessoas em geral, precisamos obter um método de direcionar tudo apenas para Ele, para o Seu serviço.

O corpo grosseiro externo não pode viver mais do que cem anos. Nossas especulações mentais estão comprometidas a nos fazer continuar em nossa atual forma humana. Mas, num dado momento, seremos obrigados a deixar esta perturbação mortal, e cessarão nossas transações com o mundo externo, não importa nosso ardor a respeito de manter-nos associados com a natureza manifestadora das coisas.

Se desejamos nos associar com o Absoluto, é preciso que abandonemos, dentro de nossas possibilidades, toda propaganda não absoluta que nos leva a alcançar nossos objetivos temporários; caso contrário, nos converteremos em meros materialistas. Essa propaganda não absoluta nos instigará a nos enredarmos com pensamentos e idéias mundanos. Estaremos pensando sobre os desenvolvimentos físicos, em vez de nos associarmos ao Absoluto.

Todos somos absolutos, ainda que infinitesimalmente pequenos. Já que mostramos desconfiança, provamos essa nossa desconfiança de nos associarmos a Ele. Desse modo, tal como cometas, fomos arrojados para longe dEle.Nos rebelamos contra essa Entidade. Agora, para retornarmos a Ele, é essencial que todas nossas associações e movimentos tendam a Seu serviço.

Mas antes de tudo, Ele precisa ser designado. Quem é Ele? Que forma Ele tem? E como poderemos retornar a Ele? Quando soubermos que Ele Se mantém aparte de tudo neste mundo fenomenal, sentiremos a necessidade de nos associar a Ele. E esta associação pode ser obtida se formos capazes de eliminar os impedimentos externos que são como barreiras entre o Infinito Absoluto e os infinitesimais absolutos.

Nossas especulações mentais objetivam a associação com os objetos fenomenais. Mas alguns filósofos consideraram que seria possível dirigir nossas especulações mentais a Ele em Sua forma abstrata, em vez de em Sua natureza manifestadora. Mas aqui, obtivemos a Sua natureza manifesta com o propósito de nos associarmos a Ele.

Não podemos ter esta associação por meio de qualquer tipo de privação. Os objetos fenomenais são indesejáveis. Ainda que exerçam algum efeito sobre nós, são transitórios e não nos proporcionarão o bem até o final dos tempos. Não pensamos, igual aos materialistas, que nossa existência cessará. Os materialistas pensam que tudo termina quando morremos –que todos nossos problemas terminarão com a morte. Esta idéia miserável deveria ser descartada.

Precisamos ocupar todas nossas atividades para nos associarmos ao Absoluto, já que nós mesmos somos associados infinitesimais.

Não somos o corpo, nem a mente, nem a atmosfera externa, de quem precisamos nos dissociar. Estas situações indesejáveis precisam ser eliminadas a todo custo, caso contrário seremos absorvidos pelos objetivos baixos deste mundo.

Várias pessoas usam os animais inferiores como comida. Na antiguidade, quando o canibalismo prevalecia no mundo, as pessoas costumavam comer carne humana. Eles pensavam que o corpo humano destinava-se a seu consumo. Mais tarde, quando a civilização progrediu, as pessoas abandonaram o canibalismo, mas continuaram a comer a carne de animais inferiores. Na Índia, as pessoas que pertencem a castas elevadas não comem alimento animal. O desenvolvimento do pensamento religioso acabou com a prática da crueldade contra os animais que era praticada de várias formas. A ciência agora provou que os vegetais também têm vida e que são capazes de sentir dor e prazer.

Não se trata de cometermos suicídio abstendo-nos de todo tipo de comida. Este problema é resolvido quando o alimento se destina a satisfazer o Absoluto.

Tudo veio dEle e deve retornar a Ele, e tudo se destina a Seu serviço. Todos os objetos animados e inanimados provêm dEle e destinam-se apenas a servi-lO. Ao nos apropriarmos das coisas, estamos enganando o Absoluto. Somos absolutos infinitesimais e estamos iludidos pelo carater manifesto dos fenômenos mundanos. Temos de nos livrar desta ilusão. Precisamos obter um vislumbre e alcançar a Verdade.

Se formos sinceros, Ele Se mostrará à nossa visão. O que quer que façamos, devemos fazê-lo para Ele, para satisfazer os Seus objetivos eternos, em vez de indulgirmos nas transações transitórias. Nossa função não é de apenas executarmos nosso trabalho para satisfazer a nós mesmos. Não deveríamos ser os beneficiários dos frutos de nossos empreendimentos. O melhor para nós é que façamos tudo a favor dEle e em Seu serviço. Somos servos. Se mantemos cães, seremos servos de cães. Se mantemos cavalos, seremos servos de cavalos, e se nos tornamos altruistas, seremos servos apenas de seres humanos. Mas é o Absoluto quem precisa ser servido a todo custo.

Precisamos considerar indispensável que todas nossas atividades tendam a Seu serviço. Todos os seres animados ou inanimados emanaram dEle. Deveríamos servir ao Absoluto e não nos ocuparmos no que não é absoluto.

A maioria das pessoas está perdida ao tentar entender o que deveria fazer e qual é seu destino. Tais pessoas somente percebem o lado superficial das coisas, sendo que este lado externo das coisas é bastante ilusório. Por sermos pessoas inteligentes, precisamos ter muito cuidado. Precisamos adentrar tudo do modo apropriado. Nossa visão não deveria ser obstruída pela representação morfológica das coisas, nem por seu lado ontológico.

A organização metodológica dos fenômenos não deveria se restringir a nosso objetivo ordinário de apenas viver. Mas já que nossa meta é vivermos uma vida pacífica, não desejamos ser perturbados pelos elementos indesejáveis do mundo. Às vezes, por seguir regras e normas e pelo respeito aos princípios cívicos, encontramos um pouquinho de paz. Mas, novamente, temos problemas devido a uma ou outra divergência das pessoas de fora. Existe uma agência operando ao fundo que não se expõe a nossos sentidos atuais.

Nossos nervos sensoriais são muito incapazes no que se refere ao objetivo de permitir uma associação com a verdade. Somos enganados pela aparência de devoção e de verdade que as pessoas podem exibir frequentemente.

As características externas, as fases morfológica e ontológica das coisas, algumas vezes são consideradas prejudiciais à nossa causa, quando ambicionamos estabelecer um contato com o Absoluto. Temos a possibilidade de obter a experiência dos últimos dez mil anos. Podemos julgar e discernir o melhor método a adotar, em vez de indulgirmos na maneira como as pessoas mundanas realizam seus afazeres à nossa volta.

Nossos sentidos reagem rapidamente aos objetos fenomenais. Objetos super-sensoriais são simplesmente negligenciados. As representações eternas, as manifestações eternas e os aspectos eternos são completamente negligenciados. Ansiamos poder tirar o máximo proveito do contato com todas as coisas desejáveis.

Em nossa vida atual, descobrimos que tudo isso é traiçoeiro e apenas nos conduz exclusivamente à satisfação de nossos sentidos. Esta propaganda não absoluta precisa parar. O que quer que possamos fazer, precisamos considerar que nem deveríamos nos sentir tímidos nem indolentes de oferecermos nossos serviços ao Absoluto.

A palavra "Absoluto" é explicada de várias maneiras. Experimentamos os objetos de fenômenos não absolutos e indesejáveis. Nossa mente é vista como dotada de uma natureza não absoluta. A mente discerne todas as coisas como sendo apenas objetos sensoriais. Descreve-se que o Absoluto Se reserva o direito de não ser exposto aos senti-dos humanos. Se o Absoluto fôsse um objeto fenomenal, estaría sob nosso domínio. Mas essa não é a situação correta. Devemos nos dedicar como Seus servos. Não pensemos que nós é que somos os desfrutadores e que Ele é o objeto predominado de nosso prazer. Ele jamais é tal coisa.

Somos obrigados a passar por diversas situações indesejáveis e desejamos nos livrar de tudo isso. Nosso impulso interno tem de ser de acessarmos a região onde todos os objetos nos oferecem uma oportunidade especial de nos associarmos ao Absoluto. Nosso objetivo deveria ser de nos associarmos com a plenitude, com a eternidade, com a pureza e com o melhor de tudo que é desejável, e não de nos misturarmos com as coisas temporárias da natureza ilusória.

Não deveríamos ter uma idéia aleijada do Supremo. Devemos esperar que a mensagem transcendental chegue plena até nós. Teremos então uma oportunidade de nos associarmos com Ele. Precisamos de um tempo para progredir na investigação da Transcendência.

Somos muito pequenos. Alguma influência avassaladora vem sobre nós e temos problemas. Assim, é melhor recorrermos ao Infinito Absoluto. Não deveríamos agir como cometas que se distanciam dEle, mas que retornam à sua morada original. Lá, nossa natureza manifesta encontra-se sempre presente, enquanto que aqui os objetos fenomenais servem apenas por poucos dias. Desse modo, é preciso que convertamos este benefício eterno em nosso objetivo. Se tivermos a deteminação para nos associarmos exclusivamente com a Entidade Total, seremos capazes de ignorar todas estas influências da natureza, toda influência das descobertas científicas.

Existem muitas coisas ocultas e não reveladas a nós e que precisam ser recebidas através de nossa recepção aural. Precisamos treinar nossos nervos auditivos para torná-los suscetíveis às ondas sonoras do mensageiro transcendental, pois, desse modo, seremos capazes de progredir rumo à Transcendência.

 

 


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(Esta conversa teve lugar em 1 de setembro de 1936 e foi publicada originalmente na revista "The Hamonist" em 20 de janeiro de 1937, mais tarde republicada na íntegra no "Sri Gaudiya Darshan" de 1983.)