Há
aqueles que se alarmam diante da teoria da adoração
de Srimurti. "Oh", dizem eles, "é
idolatria adorar Srimurti! Srimurti é
um ídolo emoldurado por um artista e introduzido
por ninguém mais do que o próprio Belzebu.
Adorar tal objeto despertará o ciúme de Deus
e limita Sua onipotência, onisciência e onipresença!"
Nós
diríamos a eles: Irmãos, candidamente compreendam
a questão e não permitam que dogmas sectários
os desorientem. Deus não é ciumento, já
que Ele é uno e sem igual. Belzebu ou Satã
nada mais são do que objetos da imaginação
ou assunto de uma alegoria. Não se deve permitir
que um ser alegórico ou imaginário aja como
um obstáculo a bhakti (devoção).
Aqueles
que acreditam que Deus é impessoal, simplesmente
identificam-nO com algum poder ou atributo da Natureza,
ainda que, de fato, Ele se encontra acima da Natureza, de
suas leis e regras. Sua doce vontade é a lei, e será
um sacrilégio confinar Sua excelência ilimitada
identificando-O a tais atributos como onipotência,
onipresença e onisciência –atributos
esses que podem existir em objetos criados tais como o tempo
e o espaço etc. Sua excelência consiste de
existir nEle poderes mutuamente contraditórios e
atributos governados por Seu Ser sobrenatural. Ele é
idêntico à Sua personalidade toda-bela,
possuindo tais poderes como onipresença, onisciênica
e onipotência como não podem ser encontrados
em nenhum outro lugar. Sua personalidade sagrada e perfeita
existe em toda sua plenitude e eternamente tanto no mundo
espiritual e ao mesmo tempo em cada objeto e local criados.
Esta idéia ultrapassa todas as demais ideias da Deidade.
Mahaprabhu
também rejeita a idolatria, mas considera a adoração
de Srimurti como sendo o único meio excepcional de
cultura espiritual. Foi mostrado que Deus é pessoa
e todo-belo. Sábios como Vyasa e outros viram essa
beleza com os olhos de suas almas e nos deixaram descrições.
É claro que a palavra carrega consigo a densidade
da matéria. Mas a Verdade é ainda perceptível
nessas descrições. Conforme essas descrições,
a pessoa representa pictoreamente uma Srimurti e com prazer
intenso vê o grandioso Deus de nosso coração
lá! Irmãos, isso é errado ou pecaminoso?
Aqueles
que afirmam que Deus não possui forma material nem
espiritual e mais uma vez imaginam uma forma falsa de adoração
são certamente idólatras. Mas aqueles que,
vendo a forma espiritual da Deidade com os olhos de suas
almas, carregam essa impressão na medida do possível
até a mente e então emolduram um emblema para
a satisfação dos olhos materiais, tudo destinado
ao estudo contínuo de um sentimento superior, não
são de modo algum idólatras.Enquanto olham
para uma Srimurti sequer percebem a própria imagem
mas enchergam o modelo espirtual da imagem e são
teístas puros.
Idolatria
e adoração de Srimurti são duas coisas
distintas, mas, meus irmãos, vocês simplesmente
confundem uma pela outra devido à sua precipitação.
Para dizer-lhes a verdade, a adoração de Srimurti
é a única forma verdadeira de adoração
da Deidade, sem a qual você não pode cultivar
o bastante seus sentimentos religiosos. O mundo atrai você
através de seus sentidos e, enquanto você não
vir a Deus nos objetos de seus sentidos, você viverá
numa posição embaraçosa que em muito
pouco ajuda você a garantir sua elevação
espiritual.
Ponha
uma Srimurti em sua casa. Pense que o Deus todopoderoso
é o guardião da casa, a comida que você
aceita é a Sua prasada, e as flores e perfumes
também são Sua prasada. Os olhos,
nariz, tato e língua, todos têm uma cultura
espiritual. Você o faz com um coração
sagrado, e Deus saberá isso e julgará você
por sua sinceridade. Satã e Belzebu nada terão
a ver com você nesse assunto! Todos os tipos de adoração
baseiam-se no princípio de Srimurti.
Examine
a história da religião e você alcançará
essa nobre verdade. A idéia semítica do Deus
patriarcal, tanto no período pré-cristão
do judaismo como no período pós-cristão
do maometanismo, nada mais é do que uma idéia
limitada de Srimurti. A idéia monárquica de
um Júpiter entre os gregos e de um Indra entre os
karmakandis arianos também formam uma visão
diferente do mesmo princípio. A idéia de uma
força e do Jyotirmaya brahma dos
meditadores e de uma energia sem forma dos shaktas
também é uma visão tímida de
Srimurti. De fato, o princípio de Srimurti é
a própria Verdade exibida de modo diferente por pessoas
diferentes de acordo a suas diferentes fases de pensamento.
Até mesmo Jaimini e Comte que não estão
preparados para aceitar um Deus criador prescreveram certas
fases de Srimurti, simplesmente por terem sido impelidos
por alguma ação interna da alma! Assim, mais
uma vez encontramos pessoas que adotaram a cruz, a shalagram
shila,
a lingam e emblemas desse tipo como indicadores
das idéias interiorizadas de Srimurti.
E
mais, se a compaixão, o amor e a justica Divinas
podem ser retratados por um lápis e expressadas pelo
cinzel, por que não o seria a beleza pessoal da Deidade
abrangendo todos os demais atributos retratados na poesia
ou numa imagem expressa pelo cinzel para o benefício
do homem? Se palavras podem impressionar pensamentos, se
o relógio pode indicar o tempo, e sinais podem nos
contar uma história, por que uma imagem ou figura
não poderiam produzir associações de
pensamentos e sentimentos mais elevados com respeito à
beleza transcendental do Personagem divino?
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(Extraído
do livro Chaitanya Mahaprabhu's Life and Precepts de Srila
Bhaktivinod Thakur, em sua edição do 'Guardian
of Devotion', edição de 1986.)