O nome de Deus
não pode ser articulado pela língua material
nem ouvido por ouvidos materiais. Deus é adhoksaja
(transcende a percepção sensorial material).
Ele se reserva o direito de não Se expor aos
sentidos orgânicos. Colhemos toda experiência,
conhecimento e memória que possuímos auxiliados
pelos sentidos mundanos.
Nossa
língua se compõe, principalmente, dos elementos
terra e água. As terminais nervosas, que se
estendem a todas as partes do corpo, carregam
cargas de eletricidade (um elemento também material).
Se um objeto está muito longe, não será tocável,
visível, degustável etc.; se estiver muito próximo,
o objeto também será imperceptível —não conseguimos
ver nossa própria tilak (a marca devocional
pintada na testa) ou a maquiagem dos olhos.
Contudo, os microscópios e telescópios, mesmo expandindo os sentidos
e ampliando seu alcance, deixam-nos limitados
à esfera material. O telescópio não consegue
penetrar a cobertura última do universo; o microscópio
tem a sua lente composta de átomos e, portanto,
não consegue ver o átomo ou o que for menor
que o átomo. Do mesmo modo, o sistema mental
de especulação é insuficiente para deixar-nos
perceber o elemento espiritual.
Mente
é um elemento material cuja densidade é muito
tênue; por conseguinte, abstrações elevadas
não são mais espirituais do que rochas.
A
crença de que ao se expandir a potência da mente
pode-se conceber o Infinito fundamenta-se num
processo defeituoso. Se o Infinito pudesse ser
confinado dentro da mente limitada, então não
seria infinito. Nem sequer sei quantos cabelos
existem em minha própria cabeça.
Especuladores mentais moem seus cérebros em cima dos aforismos
do Zen e dos "Upanishads" e pensam que por meio
de seu próprio poder obterão algo como a infinitude.
O resultado é que a mente explode e morre de
exaustão. A reação é deplorável: total esquecimento
do eu e também do Infinito.
Existem canais por meio dos quais o Infinito descende. Ele possui
poder, glória, beleza, conhecimento, riqueza
e renúncia totais. Ele é dominante, todo-expansivo,
livre e autocrático. O Infinito não pode ser
contido numa esfera limitada mas, se Ele é realmente
o Infinito, então tem o poder de Se dar a conhecer
à mente finita, em toda Sua plenitude. A verdadeira
percepção do Supremo, a auto-realização e a
revelação transcendental acontecem quando, por
Sua própria prerrogativa, Ele toma a iniciativa
e Se revela ao devoto. Ele vem pelo canal do
som transcendental, vibrando a língua espiritual
dos devotos puros que O representam para o mundo.
O elemento espiritual faz vibrar as nunca antes
vibradas línguas espirituais da audiência do
sat-guru (o mestre externo).
Note-se então que, se o guru não é genuíno, o nome
não tocará a centelha espiritual dentro das
coberturas mental e corpórea. Pode soar o mesmo
mas não é; é como leite e cal que se assemelham
ainda que são totalmente diferentes.
Atualmente, há muitos gurus artificiais; é como se estivessem camuflando
os devotos genuínos. Se alguém encontra um tesouro
sob uma árvore, inscreve suas iniciais no tronco
e mais tarde retorna para encontrar cada árvore
com as mesmas iniciais, será incapaz de reencontrar
a árvore original.
Sat-gurudeva pronuncia o santo nome. Nossos ouvidos materiais
ouvem algum som que lembra o nome transcendental
de Deus; nossos tímpanos movem o líquido do
ouvido interno –metade água, metade ar–
que vibra o elemento etéreo que toca nossa mente.
Neste ponto, a alma permanece ainda intocada,
e não houve nenhuma experiência espiritual genuína.
Ouvindo com as impressões mentais, desfrutamos do som dos címbalos,
do ritmo do cântico, da agradável companhia
e do efeito do ouvir e cantar… mas não termina
aqui; trespassando a mente, o som original pronunciado
pelo Guru move nosso intelecto, e consideramos
a filosofia transcendental: que há milhões de
anos sábios tem cantado o mesmo som à beira
de muitos rios sagrados.
Idéias
fluem de toda parte a respeito dos possíveis
efeitos do mantra. Mesmo sendo muito
bem-aventurada, essa não é uma revelação espiritual
no sentido verdadeiro.
Situado além da inteligência encontra-se o elemento espiritual:
a alma —o eu próprio. Esse som, tendo atravessado
todos meus sentidos, incluindo a mente e o intelecto,
faz vibrar, agora, os mais refinados sentimentos
de minha própria e real existência. Aqui, no
plano espiritual e por meio de minha audição
espiritual, dá-se a percepção do santo nome.
Nisto, a alma, inspirada, recapitula, enviando
vibração de volta à inteligência, à mente etc.,
até à língua externa, e dizemos: "Krishna".
Esse Krishna é Ele mesmo! E dançamos em êxtase.
Sons!
Sons! Sons! Apodere-se dos sons. Aposse-se das
ondas sonoras dentro do éter e sua felicidade
estará garantida na vida espiritual.
Um
sábio explicou em seu sutra que as epidemias
que assolam as massas devem-se à contaminação
do éter por som impuro. Quando os advogados
e promotores no Tribunal mentem em nome da Justiça,
tais vibrações sonoras contaminam o éter, que
por sua vez contamina o ar e a água que as pessoas
respiram e bebem, resultando em epidemias.
Quando
o Brahma de quatro cabeças cria o universo,
a semente dos ingredientes é som, é o Om. E
desse Om nasce o Gayatri mantram, do
qual brotam, tal qual verticilos de planetas
e estrelas espiralantes, as catorze galáxias
planetárias, tendo o sol como o próprio centro
do universo. Cada sistema planetário é composto
de um som diferente pronunciado por Brahma.
Cada galáxia provê os infinitos jivas
—as entidades vivas — de suas esferas particulares
de ação (karma) função religiosa (dharma),
desenvolvimento econômico (artha), desfrute
e sofrimento sensoriais (kama) e a facilidade
para a liberação (moksha). É função de
Brahma prover as diversas galáxias e planetas
conforme os feitos meritórios ou pecaminosos
das inúmeras entidades vivas. Brahma pronuncia
um som diferente para cada sistema planetário,
e Sri Vishvakarma, seu engenheiro, cria os planetas
segundo tais sons. É desse modo que os elementos
densos e sutis são ordenados.
Em
nosso planeta, os elementos predominantes são
terra e água; em outros mundos, encontra-se
apenas água, e no Sol predomina o fogo.
Se
um ser espiritual, sob os efeitos da ilusão,
ou maya, desejar encerrar sua existência
densa, terá de penetrar num planeta feito de
ar, éter, mente ou inteligência e lá viver como
fantasma.
A
alma individual é também dotada de uma partícula
do poder de criação, sendo que ela cria sua
minúscula esfera de influência por meio do som.
A esfera de influência de alguns seres não ultrapassa
a dimensão de seus próprios crânios; já outros
influenciam uma comunidade, uma nação ou até
mesmo um planeta inteiro.
A
beleza e harmonia de suas esferas particulares
de influência depende da qualidade do som que
produzem.
Quando
uma nação tenta conquistar outra, os primeiros
pontos a capturar são as estações de rádio,
os jornais –as linhas de comunicação.
Transmitindo seu manifesto por meio do som, o governo é capaz de
derrubar os líderes de seus postos e tomar o
país. É então —e também por meio do som— que
o novo governo se estabelece. Se houvesse algum
defeito nesse som, por menor que fosse, tudo
estaria arruinado. É por isso que há tantas
mudanças na situação mundial. O som de todas
essas almas é, para citar a Bíblia, uma Babel.
Sons absurdos estão penetrando e contaminando
o éter, o ar, a água e a própria estrutura molecular
de cada pessoa, lugar e coisa.
Toda
mente se compõe de duas funções tecnicamente
conhecidas como sankalpa e vikalpa.
Sankalpa significa o desejo mental de
ordenar os pensamentos em conceitos, teorias
e grupos de teorias. Vikalpa é a função
da mente de rejeitar pensamentos, simplificando
e limitando as experiências que são coletadas
por meio dos sentidos da visão, audição, olfato,
paladar e tato. Ambas funções são controladas
por meio do som.
Aqui
está um experimento: feche os olhos. Quando
eu disser um número você o verá refletir-se
diante da mente como numa registradora. Um…
três… sete… quatro…
O
processo de sankalpa e vikalpa,
respectivamente, faz com que os pensamentos
venham e vão.
Esta
é uma forma bastante simplificada do processo
mental. Numa escala mais complexa, existe o
arriscado negócio de intencionalmente invadir
as ondas sonoras com sons defeituosos.
As
linhas de comunicação estão repletas de sons
impuros, que vão desde os mais elementares livros
escolares até as filosofias ditas mais avançadas.
Os trapaceiros do Congresso são outro exemplo
excelente da poluição intencional dos canais
sonoros.
Mas,
se infundíssemos o éter de som espiritual, se
o saturássemos com a vibração do som transcendental
do nome de Deus, o mantra purificaria,
iluminaria e saturaria cada ser com suas potências.
Cheto-darpana-marjanam: no início, o som espiritual do mahamantra
(Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare
Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare)
limpa a poeira material do espelhode nossa mente.
A
mente é como o médium que conecta o espírito
à sua cobertura material externa: o corpo.
A
alma não tem atividade material. Quando coberta
por maya, ou ilusão, a alma permanece
dormente, num estado de animação suspensa. Contudo,
tamanha é a magnitude da alma que ela infunde
consciência em todas as direções.
Os
sentidos agem através do médium da mente, e,
assim, nós "sabemos" coisas. Se esta lente que
é a mente estiver fora de foco, influenciada
pela natureza externa, sofreremos dor, confusão,
doença e morte.
Sim,
desde que a alma não sofre de morte, esta é,
tão-só, um estado mental. Devido à mente cometemos
o equívoco de pensar, "Oh, estou morrendo!",
"Estou me afogando!", "Estou parindo!", "Estou
doente!" etc.
A
mente, ao ser limpa por meio do mahamantra,
é inevitavelmente purificada; todos os planos
materiais, sendo a causa de nosso sofrimento,
são forçosamente mortos… mortos de fome. Vicejam
nos prazeres sensoriais materiais.
Inundar a mente com som transcendental é algo assim como pisar
no pino de uma bomba: aqueles equívocos de sofrimento
e desfrute material são todos estraçalhados,
mortos, e a mente material é plenamente conquistada
sem deixar nenhum inimigo na retaguarda. Nesse
momento, a mente reflete o conhecimento, a qualidade,
e a energia espiritual da própria alma.
Logo
vem, bhava-maha-davagni-nirvapanam: a
extinção do fogo da vida condicionada.
Nirvana, que muitas pessoas estão desejando compreender dos textos
budistas, significa extinguir o fogo da existência
material.
Este
corpo tem estado ardendo desde o começo dos
tempos pelo processo da digestão. Os biólogos
declaram que o corpo é um organismo candente
que emana calor, vapor de água e dióxido de
carbono. Após setenta anos ou mais, nosso corpo
é completamente consumido por esse fogo abrasante
da digestão, e mudamo-nos para outro corpo tão-só
para queimá-lo também. Pela potência do som
transcendental, extingue-se a causa desse fogo.
Depois
temos shreyah-kairava-chandrikavitaranam-vidya-vadhu
jivanam. O som transcendental espalha a
luz de bênçãos, de sugestões pacíficas e destemor,
e nenhuma ansiedade invadirá a mente.
Após
sairmos do ventre, encaramos o mundo com muitos
medos enraizados. Há segurança? Existirá a felicidade?
Existirá paz? A resposta é a semente básica:
Om, que, neste sentido, significa um grande
e espiritual SIM. Om: sim –uma resposta
positiva.
A
mera negação da mente não satisfará as questões
da alma; algo positivo deve ser oferecido. O
mahamantra inunda a mente com sugestões
da verdade.
E,
anandam-budhi-vardhanam-pratipadam-purnamritasvadanam.
Desde tempos imemoriais, um grande gole do bem-aventurado
oceano de néctar é servido à alma sedenta.
Sarvatma-snapanam-param-vijayate-sri-krsna-sankirtanam.
Esta frase tem dois significados: uminterno
e outro externo. Sarvatman significa
todos os seres. O santo nome banha todas as
almas em amor, bem-aventurança e conhecimento
transcendentais. O som transcendental completamente
conquista a alma com suas sublimes potências.
Mas atman tem muitos significados, como
apresentados por Sri Chaitanya Mahaprabhu: significa
a Suprema Verdade Absoluta, o corpo, a mente,
o esforço, a inteligência, a convicção e a natureza.
Ao
pronunciar o puro som do mahamantra invadimos
a própria causa de tudo o que existe.
A
mente, o corpo e a alma, e até a própria natureza,
podem ser tornadas transcendentais por nossa
exclamação do puro nome.
Capturem as ondas sonoras –a causa de cada item da existência–
e saturem-nas do nome de Deus! O resultado será
a total transformação de energia.
Um
ashram, Templo, e a parafernália nele
existente são coisas divinas. O meio ambiente
em que se vive no ashram não é igual
àquele em que nascemos. Situa-se "lá", no mundo
espiritual; e, quanto mais progredirmos nas
práticas espirituais, mais Deus se revelará
a nós.