Prefácio
ao Sri Sri Prapanna
Jivanamritam
Srila
Bhakti Raksak
Sridhar Dev-Goswami
Maharaj
____________________________
Por
ser uma partícula de consciência, a alma é capacitada
com livre arbítrio. Ao eliminarmos o livre-arbítrio, resta
apenas matéria densa. Sem independência, a alma não pode
progredir do cativeiro para a liberação e sua salvação
final teria sido impossível. Mas seu espírito de exploração
é uma força alheia, um intoxicante —um equívoco que envolve
sua independência.
Podemos
analisar cientificamente três tipos de objetivos de vida:
exploração, renúncia e dedicação. A tendência geral é de
as pessoas se ocuparem em explorar as demais pessoas, espécies
ou elementos para o desfrute mundano dos sentidos. Desejam
elevar-se materialmente dentro do ambiente atual e, assim,
são descritas como "elevacionistas".
Uma
classe de pessoas mais sóbrias descobre as severas reações
iguais e em sentido contrário aos objetivos mundanos e se
ocupa da renúncia ao mundo em busca de um equilíbrio comparável
a uma inatividade profunda e sem sonhos. Ao não permanecerem
despertas para o mundo, esperam escapar de suas reações
e sofrimentos concomitantes. Assim, sua meta é a liberação
e são conhecidos como "salvacionistas" ou "liberacionistas".
Mas,
através da correta interpretação das escrituras reveladas
pelos adeptos eruditos como Sri Sanatana Goswami, Sri Jiva
Goswami e Sri Ramanuja, os devotos da divindade sabem que
perseguir tanto a exploração como a renúncia não só é um
esforço infrutífero como danoso ao verdadeiro progresso.
O
plano normal, saudável e feliz encontra-se na vida de dedicação.
Sem explorar nem emprestar nada do meio ambiente e sem tentar
artificialmente renunciar ao mesmo, a pessoa que é sincera
em dedicar a si mesma naturalmente entra em contato com
um plano de vida mais elevado e mais sutil. Devido à sua
predisposição a dar e a servir, atingirá uma sociedade superior
e obterá um mestre apropriado. O espírito de desfrute força
a pessoa a se associar a um segmento inferior com o objetivo
de controlar e desfrutar. E o espírito de renúncia fascina
até mesmo os eruditos com sua "superio-ridade prestigiosa"
acima da exploração. Portanto, é mais perigosa, assim como
a meia-verdade é mais perigosa que a mentira. Tal como é
difícil despertar alguém do sono mais profundo possível,
os liberacionistas podem permanecer por tempo incalculável
em sua cela da liberação não diferenciada. Mas a existência
superior convidará o serviço daquele que deseja dedicar-se
puramente e sem remuneração.
Seva
–serviço, dedicação–é a essência dos ensinamentos
da escola Vaishnava –o terceiro plano da vida no qual
cada unidade é um membro dedicado de um todo orgânico. Em
tal ajuste normal, cada um ajuda mutuamente o outro em seu
serviço ao Centro, quem é o mais elevado recipiente e a
entidade mais elevada. Tudo existe para satisfazer a Ele,
pois Ele tem de possuir essa qualificação para ser o Absoluto.
Ele é a causa primordial de todas as causas –e tudo
existe para Ele, para satisfazê-lO.
Uma
concepção estéril de mera "ausência de morte" não pode nos
conceder qualquer conhecimento da coisa positiva, mas apenas
liberdade do lado negativo. Se imortalidade significa "não
influência da mortalidade", qual é então sua concepção positiva?
Qual será a natureza, o movimento e o progresso daquilo
que é imortal? Sem essa compreensão, a imortalidade é apenas
uma idéia abstrata. Por não exibir os sintomas da morte,
a pedra seria "mais imortal" do que os seres humanos e as
entidades conscientes seriam "mortais", para sempre sendo-lhes
negada a imortalidade! Qual é então a concepção positiva
de imortalidade? Como o imortal é "imortal"? Qual é a realidade
positiva na imortalidade? Como uma pessoa pode tornar-se
imortal? A pessoa deve buscar por sua localização intrínseca
na ordem universal. Não serve de nada tentarmos resolver
somente o lado negativo da vida que está repleto de sofrimento
—nascimento, velhice, doença e morte.
Precisamos
saber que existe uma concepção de vida pela qual vale a
pena viver. Este lado positivo tem sido quase que totalmente
negligenciado pelas visões religiosas em geral. A "imortalidade"
professada pelas escolas de Budha e de Shankaracharya não
produzem uma vida positiva. Seus objetivos são respectivamente
o maha-nirvvana e o brahma-sayujya. A teoria
dos budistas é que depois da liberação nada permanece. Eles
anseiam pela extinção absoluta da existência material (prakriti-nirvana).
E a teoria de liberação monista dos shankaritas é de se
perder a própria individualidade para "se tornar uno" com
o aspecto não-diferenciado do Absoluto. Ou seja, anseiam
pela extinção no Brahman (brahma-nirvana).
Postulam que, quando a tríade do vidente-visível-visto (drasta-drisya-darsana),
ou conhecedor-cognoscível-conhecimento (jñata-jñeya-jñana)
culminam num ponto único, a tríade é destruída (triputi-vinasa)
e nada mais permanece.
A
ação e areação materiais cessam no Viraja, o rio da passividade,
que se localiza na margem mais alta deste mundo ilusório
(mayika). E acima do Viraja encontra-se o destino
dos shankaritas —o estágio "abscissa" (terminação) ou o
plano não diferenciado do Brahman, chamado de Brahmaloka
e que se situa na parte inferior do domínio espiritual.
Ambas são áreas vagas de "imortalidade negativa". Brahmaloka
é um estado marginal ou "fronteiriço" a meio caminho entre
os mundos material e espiritual. Composto de inúmeras almas,
é um plano imortal desprovido de variedade específica (nirvvisesa).
Possui positividade somente no sentido de que é um plano
de existência, um plano de fundo (kastha), mas, em
si, falta-lhe desenvolvimento positivo de existência variegada
(kala). A natureza do plano de fundo é una, e o desenvolvimento
tecido sobre o mesmo necessita de pluralidade ou de uma
natureza diferenciada (kala-kasthadi rupena parinama-pradayini
—Chandi, Markandeya Purana)
No
Bhagavad-gita (15.16), são descritas as existências mutável
(kshara) e imutável (akshara), representando
o pessoal e o impessoal, o desenvolvimento e a base, ou
as concepções diferenciada e não diferenciada da existência
geral. O mutável é representado pela multidão de seres vivos
corporificados, enquanto que o aspecto imutável é a grande
expansão do Absoluto todo-acomodante, o Brahman
(Bhagavad-gita, 8.3).
Na análise da ação mundana, a forma mais sutil de ação prévia
não frutificada, anterior à propensão atual ao pecado (o
estado seminal), foi definida (B.r.s. Purvva 1.23) como
sendo não cognoscível, indistinta e de origem imperscrutável
(kuta). O aspecto imutável Brahman do Absoluto
é do mesmo modo definido como sendo unidimensional —indetectável,
inespecífico e sem definição de cor, som ou sabor; um estágio
de existência (kuta) desconhecido, incognoscível
e incompreensível. Mas o Senhor Supremo, Krishna, encontra-Se
acima das existências mutável e imutável e, assim, Suas
glórias são cantadas em todos os Vedas e no mundo como sendo
Ele o Purusottama, a Personalidade Suprema (Bhagavad-gita,
15.18). Sri Sukadeva Goswami afirma que o Senhor Krishna
pode ser encontrado no plano mais remoto e distante: Ele
se encontra em toda parte —a fonte original de todas as
concepções (vidura-kasthaya, Srimad-Bhagavatam: 2.4.14).
Ele não pode ser eliminado.
Assim,
a "imortalidade" das escolas impersonalistas tais como a
dos budistas, shankaritas e outros, não oferece uma vida
positiva. Mas no Vaisnavismo, a imortalidade é uma existência
positiva e dinâmica. Acima do aspecto não diferenciado do
Brahman, começa a existência transcendental, variegada no
primeiro vislumbre do céu espiritual, o plano conhecido
como Paravyoma (Chaitanya-charitamrita, Madhya 19.153).
Situado lá no plano espiritual, encontra-se o Reino de Deus
positivo: primeiro vem Vaikuntha, depois Ayodhya, Dvaraka,
Mathura e, finalmente, acima de todos, Goloka. Transcendendo
as áreas vagas da "imortalidade negativa" que são a aspiração
dos impersonalistas, os devotos —os Vaishnava– dedicam-se
à vida de serviço devocional eterno ao Senhor Supremo do
domínio transcendental (Bg. 18.54). Ainda que a alma pode
vir a se maladaptar a um estado de existência decaído nos
planos da exploração e da renúncia, ela é inerentemente
adaptável à vida positiva no Reino de Deus. E ao desabrochar
plenamente, alcança o domínio de Goloka (svarupe sabara
haya golokete sthiti — Sri Sri Krsnera Astottara-sata-nama).
Sri
Prapanna-jivanamritam: amrita significa "imortal
ou "néctar", e jivana significa "vida". A imortalidade
positiva é possível somente para as almas rendidas (prapannanam).
As demais são necessariamente mortais. Somente aqueles que
se entregaram completamente ao Centro estão vivendo na eternidade.
A rendição é plenamente estabelecida em sua excelência e
em sua posição constante. Contudo, existe variedade dentro
da constância, na forma do movimento progressivo, ou passatempos
(vilasa). A Absoluta Suprema Personalidade é infinitamente
superior tanto aos "mortais" mutáveis como ao Brahman
"imortal imutável" (negativo). Somente as almas svarupa-siddha
–ou as almas que estão perfeitamente estabelecidas
em seu relacionamento divino com Ele– estão eternamente
livres da doença da mutação e da mortalidade (svarupena-vyavasthitih,
Srimad-Bhagavatam, 2.10.6).
Com
uma visão ampla, devemos nos reconhecer como sendo criados
de material inferior, e que, somente com ajuda do alto,
podemos melhorar nossa situação e alcançar uma posição no
plano superior. Precisamos de uma atitude submissa e servil.
Se nos submetemos, o aspecto ditatorial universal do Absoluto
nos elevará a um prospecto superior. Ele é o autocrata,
o conhecimento absoluto, o bem absoluto —tudo a Seu respeito
é absoluto. Ao estarmos numa posição vulnerável como a que
experimentamos neste mundo, por que não nos submeteríamos
a Ele?
O
caminho que conduz até a esfera da transcendência (adhoksaja)
é o método dedutivo ou descendente (avaroha-pantha).
Podemos alcançar o bem absoluto, a vontade absoluta, unicamente
por Seu consentimento. Somente por meio da fé em rendição
absoluta alguém recebe permissão de entrar naquele domínio
e jamais através da "exploração", pela "colonização" ou
tentando tornar-se um "monarca" por lá. Nenhum método indutivo
ou ascendente (aroha-pantha) tal como a renúncia
ou a ioga, etc., podem compeli-lO a nos aceitar. Somente
a pessoa que Ele escolhe pode alcançá-lO (Svet. 6.23). Ainda
que o ponto mais elevado dos renunciantes é a ausência de
desejos ou a liberdade da possessividade, a alma rendida
(saranagata) está naturalmente livre dos desejos
(akiñchana, Ch.ch. Madhya 22.99). O desapego é apenas
o lado negativo da rendição, e, acima da abnegação, o devoto
se rende à substância superior, o que significa estar desperto
em outro mundo, em outro plano de vida. Essa é a concepção
Vaishnava de vida positiva —determinar nosso próprio Eu
real além da jurisdição do mundo do equívoco.
A
natureza da substância progressiva é a existência eterna,
o conhecimento e a beleza (sach-chid-ananda). O todo
uno, orgânico e harmonizante (advaya-jñana-tattva)
contém todas as similaridades e diferenças mantidas inconcebivelmente
nas mãos do Absoluto (achintya-bhedabheda-tattva).
E não existe anarquia no poder absoluto. Contudo, a misericórdia
encontra-se acima da justiça. Acima do judicioso, a posição
suprema é mantida pelo amor, simpatia e beleza: "Eu sou
o poder absoluto, mas sou amigável a todos vocês. Sabendo
disso você nunca tem do que temer" (Bhagavad-gita, 5.29).
Esta revelação nos alivia de toda apreensão: não somos vítimas
de um ambiente caótico, mas é judicioso, considerado
—e o administrador último é nosso amigo.
Sri
Jiva Goswami afirmou que entre os seis sintomas de rendição,
aceitar a proteção do Senhor (goptritve varanam)
é central, desde que a rendição total expressa o mesmo ideal.
Os restantes cinco sintomas de aceitar o que e favorável,
rejeitar o desfavorável, ter fé na proteção do Senhor, completa
auto-entrega e humildade são servos associados naturais
que contribuem para o ideal (angangi-bhedenasad-viddha;
tatra 'goptrtve varanam' evangi, saranagati-sabdenaikarthyat;
anyani tat parikaratvat —Bhakti-sandharba, 236).
A
rendição é a fundação do mundo da devoção. É a própria vida
e essência. A pessoa não pode penetrar nesse domínio sem
rendição. Esta deve estar presente em cada forma de serviço,
e tentar o serviço divino sem rendição seria mera imitação
e uma formalidade sem vida. A plena essência da instrução
védica é de se dedicar ao serviço do Senhor. Em seu comentário
do Srimad-Bhagavatam, Sri Sridhar Swamipada afirmou que,
somente se as praticas da devoção forem inicialmente oferecidas
ao Senhor Supremo poderão ser reconhecidas como devoção.
Tentar executá-las para posteriormente oferecê-las não pode
ser devoção pura (iti nava laksanani yasyah sa, adhitena
ched bhagavati visnau bhaktih kriyate. Sa charpitaiva sati
yadi kriyeta, na tu krita sati pascad arpyeta). Sem
a rendição, a atividade será adulterada com exploração,
renúncia, meditação artificial (karma, jñana, ioga),
e dai em diante.
Por
constituição, a alma é serva do Senhor, e o Senhor tem o
direito de fazer e desfazer, de fazer tudo de acordo à Sua
doce vontade. Se aceitarmos essa verdade e adotarmos as
práticas devocionais de ouvir, cantar, lembrar e adorar,
somente então nossa atividade será devocional. Somente a
atividade da alma autodedicada pode ser devoção. A prece
sincera nos ajudará a buscar pela ajuda do Senhor, mas,
novamente, só a oração no espírito de entrega é capaz de
alcançá-lO (Sharanagati, 1.5). A senda da devoção requer
aumento de nosso status negativo para convidar o positivo
a que descenda e nos abrace: "Eu sou muito baixo, e Você
é tão elevado. Você pode purificar-me; pegue-me e use-me
para Seus objetivos superiores. Fique satisfeito. Caso contrário,
estou desamparado, negligenciado." É impossível torná-lO
ativo na gaiola de nosso conhecimento. Somente o caminho
da devoção pode ajudar-nos. Em todo aspecto, Ele é elevado,
grandioso e infinito –e nos somos igualmente pequenos.
Sua misericórdia –Sua simpatia, amor e graça, são
o único meio através do qual podemos nos reunir. E a boa
fé é autônoma naquela terra doce que é tão elevada. Esperaremos
e oraremos ansiosamente pela associação com a existência
superior como um seu escravo; e esse também será nosso prospecto
feliz para o futuro.
Krishna
não está no âmbito de nosso controle. Por isso as escrituras
e os santos sempre recomendam que nos aproximemos de um
Mestre Divino genuíno e dos Vaisnavas. O critério para satisfazer
o Senhor Supremo é satisfazer nosso Gurudeva: se Gurudeva
estiver insatisfeito conosco, o Senhor estará certamente
insatisfeito. Nas Escrituras, foi apresentada uma analogia
que compara o Senhor ao Sol, o Guru ao lago e o discípulo
a uma flor de lótus. Se o lago seca, o próprio Sol esturric
e seca a lótus —e a lótus será animada pelo Sol enquanto
a água do lago a suporta e a rodeia. Yasya prasadad bhagavat
prasado, yasyaprasadan na gatih kuto 'pi; dhyayam stuvams
tasya yasas tri-sandhyam, vande guroh sri-charanaravindam:
"Eu me curvo aos pés de lótus de Sri Gurudeva. Por sua graça
alcançamos a graça de Krishna e, sem a sua graça, estamos
perdidos. Portanto, meditamos em Sri Gurudeva, cantamos
suas glórias e oramos por sua misericórdia de madrugada,
ao meio dia e à noite." (Gurvastakam, 8)
Todos
os relacionamentos do Guru Vaisnava com o discípulo são
fruto da graça, e sua graça é seu desejo de estender a sua
riqueza ao discípulo. Sua instrução é o meio de asseverar
a sua vontade, que é o serviço para satisfação do Senhor.
E, por meio do serviço, convidamos a sua graça. Por nosso
desejo ansioso de servir, obtemos sua simpatia e seu desejo
de expandir sua boa-vontade para nos encorajar em nosso
relacionamento com a entidade suprema.
Primeiramente, vem a rendição: precisamos oferecer respeito
exclusivo a ele (pranipata), caso contrário, não
devemos nos aproximar dele. Em segundo lugar, devemos inquirir
com sinceridade e consistência (pariprasna). Num
espirito rendido, devemos ouvir as mensagens que nosso Mestre
Divino nos transmite de seu assento venerado, a Vyasasana.
Nesse ambiente condizente, a inspiração e o preceito apropriados
poderão descender até nós casualmente. E por último, render
serviço (sevaya) nos permite saborear a essência
(Bhagavad-gita, 4.34).
Pela
instrução de seu Gurudeva Devarsi Narada, Vyasadeva teve
de passar por um desenvolvimento progressivo (Srimad-Bhagavatam,
1.5). Narada está situado na devoção não calculativa (jñana-sunya-bhakti,
ou jñana-vimukta-bhakti-paramah), e, acima de Narada,
encontra-se Uddhava, quem está estabelecido em amor divino
e exclusivo por Krishna (premaika-nisthah). Até a
pessoa alcançar Goloka, onde se encontra a concepção
plenamente desenvolvida de Krishna, os demais estágios podem
ser mutáveis. Não existe mais mudança quando a pessoa está
firmemente estabelecida em seu relacionamento divino com
o Senhor Original (svayam-bhagavan), Krishna. Na
narrativa do Brihad-Bhagavatamritam, Gopakumara passa por
Vaikuntha, Ayodhya, Mathura, Dwaraka e finalmente chega
a Vrindavana. Lá, seu relacionamento divino particular com
o Senhor culmina firmemente em amizade (sakhya-rasa).
Para ele, os estágios anteriores eram passageiros –ainda
que para outros poderia ocorrer um relacionamento permanente
em um deles. Eles são os estágios progressivos da "imortalidade
positiva".
Na
conversa entre Sri Chaitanya Mahaprabhu e Sri Ramananda
Raya às margens do rio Godavari, a inteireza do desenvolvi-mento
teísta foi expresso em planos progressivamente mais profundos.
Nos estágios positivos, existe uma hierarquia positiva de
relacionamentos divinos entre os vários tipos de devotos
e o Senhor (karmmibhyah...kah kriti, Upadeshamrita,
10), sendo que cada tipo tem seu relacionamento central
característico (vaikunthaj...viveki na kah, Upadeshamrita,
9). Na dimensão divina, a profundidade e o grau de rendição
também podem ser avaliados segundo a ciência dos relacionamento
(rasa-tattva): passividade, servidão, amizade, parentesco
e conjugalidade (santa-, dasya-, sakhya-, vatsalya- e
madhura-rasa) são as divisões naturais, cada uma consecutivamente
de uma camada mais refinada. E superior até mesmo ao relacionamento
conjugal direto com o Supremo encontra-se o mais elevado
no âmbito total dos serviços devocionais: o serviço divino
à Metade Predominada e Suprema (Sri Radha-dasya).
A
qualidade da magnitude da verdade encontrada pode ser avaliada
conforme a intensidade da rendição —até o ponto em que não
há mais retorno. A doçura interna da verdade e sua característica
infinita atraem o coração dos devotos ao grau mais elevado,
ao ponto em que eles nunca sentem qualquer satisfação de
realização naquilo que é o cume de sua maior fortuna. Em
Vaikuntha, somente estão presentes a passividade
e a servidão, com um toque de amizade. Se cometermos a ofensa
de prestar mais atenção à lei do que ao amor, seremos "arrojados
para baixo" de Goloka a Vaikuntha: Goloka é a terra do amor,
onde os habitantes desconhecem qualquer outra coisa. E,
por amor, entendemos o auto-sacrifício e o auto-esquecimento
para o serviço a Krishna, sem cuidar de sua própria boa
ou má fortuna —risco total ao extremo.
Em
seu livro Bhakti-sandarbha, Sri Jiva Goswami define "Bhagavan",
a Suprema Personalidade de Deus, como sendo mais do que
o "Senhor Narayana de Vaikuntha, o mais poderoso em todas
as fases". Acima disso, Sua existência, aparência e natureza
atraem a todos a servi-lO, amá-lO e a morrer por Ele (bhajaniya-guna-visista).
Sua qualificação
é tão bela assim. Portanto, Krishna é a concepção mais elevada
do Supremo, e Ele pode ser conhecido pelos devotos em Consciência
de Krishna. Aqueles que servem e adoram o Senhor Supremo
conforme os regulamentos e cálculos escriturais pertencem
à adoração que se situa na categoria de Vaikuntha. Em Vaikuntha,
na concepção transcendental consciente (adhoksaja),
o Supremo, em Sua forma de Narayana, aceita o serviço reverencial
em Sua Dignidade Majestosa. Mas os devotos de uma ordem
superior estão rendidos exclusivamente ao serviço ao Senhor
Krishna com seu amor e fé de um tipo mais profundo.
O
conceito Krishna de Goloka Vrndavana é corroborado no Srimad-Bhagavatam,
que é a mais elevada interpretação das Escrituras Védicas.
E Sri Chaitanya Mahaprabhu é conhecido como sendo o Próprio
Krishna unido à Sua potência superior, Sri Radha. Mahaprabhu
Sri Chaitanyadeva revelou com clareza que a genuína interpretação
e objetivo de todas as Escrituras reveladas é de nos orientar
fielmente rumo ao objetivo mais elevado: o domínio do amor
e da rendição incondicional ao poder central da verdade,
personificado como a beleza e o afeto na forma do Senhor
Krishna. O afeto é a força maior que atrai a todos
e não o poder. Consciente ou inconsciente-mente,
o amor e o afeto detêm a posição absoluta, pois o amor é
superior a todo poder e conhecimento; é o verdadeiro
preenchimento do âmago do coração. Nossa existência mais
profunda anseia apenas por amor, beleza e afeto –e
não por conhecimento ou poder. O finito não pode capturar
o Infinito, mas o Infinito pode se dar a conhecer ao finito.
E quando o Infinito aparece como um membro da terra do finito,
o finito obtém seu ganho mais elevado. Krishna carrega os
sapatos de Seu pai e chora quando é castigado por Sua mãe.
Através do amor, o Absoluto descende até o finito.
Em
Vrindavana, encontramos a abordagem mais íntima do Infinito
para com o finito. O Infinito vem para abraçar o finito
em sua plena capacidade (aprakrita), misturando-se
a coisas finitas tão intimamente que as pessoas não conseguem
perceber o carater Divino e transcendental do Senhor como
sendo a própria Divindade. Nós, almas infinitesimais, podemos
atingir nossa maior fortuna quando o Infinito vem até nós
em sua abordagem mais elevada —como se fosse um de nós!
Sua abordagem é tão misericordiosa, tão grandiosa, tão íntima
e tão perfeita.
Sri
Chaitanya Mahaprabhu –que é uma combinação de doçura
e magnanimidade– anunciou abertamente que somos todos
escravos naturais da entidade suprema (Chaitanya-charitamrita,
Madhya 20.108). Mas esta é uma escravidão à grande força
do amor e da beleza. A maior fortuna é poder ser
utilizado de qualquer forma pela existência, conhecimento
e beleza absolutos —estar em harmonia com o centro superior.
Ninguém é forçado ou barrado, pois esta é a natureza intrínseca
da alma.
Este
livro Sri Sri Prapanna-jivanamrtam foi compilado para suprir
sustentação e nutrição espiritual aos devotos seguindo fielmente
a Sucessão Divina de Nitya-lila-pravista Om Visnupada Paramahamsa
Astottara-sata Sri Srimad Bhakti Siddhanta Saraswati Goswami
Prabhupada Foi especialmente inspirado pela mensagem divina
do Sharanagati de Srila Thakura Bhaktivinod e produzido
em serviço às literaturas Gaudiya Vaishnavas tais como Sri
Hari-Bhakti-Vilasa e Bhakti-Sandarbha bem como aos escritos
de outras Sucessões Divinas Autorizadas –tais como
a Ramanuja Sampradaya.
O
Néctar nas Vidas das Almas Rendidas sustentará e fortalecerá
as almas rendidas como o néctar de suas vidas de Imortalidade
Positiva e Progressiva.