Amamos
ler um livro que nunca lemos antes. Estamos
ansiosos de reunir qualquer informação
que ele contenha, e com tal ganho nossa
curiosidade acaba. Esta modalidade de estudo
prevalece entre um grande número
de leitores que se consideram grandes personalidades
em sua própria avaliação
bem como daqueles que são de seu
mesmo temperamento. O fato é que
a maioria dos leitores são meros
repositórios de fatos e declarações
feitas por outras pessoas. Mas isso não
é estudar. O estudante deve ler os
fatos com vistas a criar, e não com
o objetivo de uma retenção
infrutífera. Estudantes, igual a
satélites, deveriam refletir qualquer
luz que recebem dos autores, e não
aprisionar os fatos e pensamentos como juizes
aprisionam condenados na prisão!
O pensamento é progressivo. O pensamento
do autor deve progredir no leitor na forma
de correção ou desenvolvimento.
O melhor crítico é aquele
que pode mostrar o desenvolvimento posterior
de um velho pensamento; mas um mero denunciador
é o inimigo do progresso e consequentemente
da natureza. Progresso certamente é
a lei da natureza, e devem haver correções
e desenvolvimentos com o progresso do tempo.
Mas progresso significa ir adiante ou se
elevar mais alto. O crítico superficial
e o leitor infrutífero são
dois grandes inimigos do progresso. Devemos
evitá-los. O verdadeiro crítico,
por outro lado, nos aconselha a preservarmos
o que já obtivemos, e ajustarmos
nossa corrida daquele ponto a que chegamos
no calor de nosso progresso. Ele jamais
nos aconselhará a retornarmos ao
ponto de partida, pois ele bem sabe que,
nesse caso, haverá uma perda infrutífera
de nosso tempo e labor valiosos. Ele dirigirá
o ajuste do ângulo de nossa corrida
para o ponto em que nos encontramos. Essa
é também a característica
do estudante útil. Ele lerá
um autor antigo e descobrirá sua
exata posição no progresso
do pensamento. Ele jamais proporá
queimar um livro com base em que contém
pensamentos inúteis. Nenhum pensamento
é inútil.
Pensamentos são meios pelos quais
atingimos nossos objetivos. O leitor que
denuncia um mau pensamento não sabe
que uma estrada ruim é capaz de ser
melhorada e convertida numa boa estrada.
Um pensamento é uma estrada que leva
a outro. Assim, o leitor descobrirá
que um pensamento, que é objetivo
hoje, será o meio para um objetivo
posterior amanhã. Os pensamentos
necessariamente continuarão a ser
uma série infindável de meios
e objetivos no progresso da humanidade.
Os
grandes reformadores sempre afirmarão
que não vieram para destruir a velha
lei, mas para cumpri-la. Valmiki, Vyasa,
Platão, Jesus, Maomé, Confúcio
e Chaitanya Mahaprabhu afirmam o fato, seja
expressamente ou por sua conduta. Contudo,
nosso crítico pode de modo nobre
nos dizer que um reformador como Vyasa,
a menos que seja explicado de modo puro,
pode liderar a milhares de homens a grandes
problemas nos tempos vindouros. Mas caro
crítico! Estude a história
das eras e dos países! Onde você
encontra que o filósofo e o reformador
foram totalmente compreendidos pelas pessoas?
A religião popular é a do
medo de Deus, e não a do amor puro
espiritual que Platão, Vyasa, Jesus,
e Chaitanya ensinaram a seus respectivos
povos! Seja que você apresenta a religião
absoluta em figuras ou expressões
simples, ou a ensina por meio de livros
ou palestras, o ignorante e o descuidado
devem degradá-la.
Em
verdade, é muito fácil dizer
e rápido de se ouvir que a Verdade
Absoluta tem uma tal afinidade com a alma
humana que chega diretamente, como se intuitivamente,
e que não há necessidade de
esforço de ensinar os preceitos da
verdadeira religião, mas esta é
uma idéia enganosa. Pode ser verdade
no que se refere à ética e
ao alfabeto da religião, mas não
à mais elevada forma de fé,
que exige uma alma exaltada para ser compreendida.
Todas as verdades superiores, ainda que
intuitivas, exigem uma educação
preliminar nas mais simples.
A religião mais pura é a que
nos dá a idéia mais pura de
Deus. Como então é possível
que os ignorantes jamais venham a obter
a religião absoluta, enquanto permanecem
ignorantes? Assim, não vamos escandalizar
o Salvador de Jerusalém ou o Salvador
de Nadia por esses males subsequentes. Nós
precisamos de Luteros e não de críticos
para correção desses males
por meio da verdadeira interpretação
dos preceitos originais.
Deus
nos dá a verdade como Ele a deu a
Vyasa, quando buscamos sinceramente por
ela. A verdade é eterna e inexaurível.
A alma recebe uma revelação
quando anseia por ela. As almas dos grandes
pensadores das eras passadas, que hoje vivem
espiritualmente, muitas vezes se aproximam
de nosso espírito inquiridor e o
assessoram em seu desenvolvimento. Assim,
Vyasa foi assessorado por Narada e Brahma.
Nossos
shastras, ou em outras palavras,
nossos livros de pensamentos, não
contêm tudo que poderíamos
obter do Pai infinito. Nenhum livro está
livre de erros. A revelação
de Deus é a Verdade Absoluta, mas
é raramente recebida e preservada
em sua pureza natural.
Fomos
aconselhados no Srimad-Bhagavatam (11.14.3)
a acreditar que a verdade, quando revelada,
é absoluta, mas, com o passar do
tempo, recebe uma coloração
da natureza do recebedor e se converte em
erro pelo cambio contínuo de mãos
de era a era. Portanto, novas revelações
são continuamente necessárias
a fim de manter a verdade em sua pureza
original.
Somos
desse modo alertados a sermos cuidadosos
em nossos estudos de autores antigos, por
mais sábios e famosos que sejam.
Aqui, temos a liberdade plena para rejeitar
a idéia errada, que não é
sancionada pela paz de consciência.
Vyasa não estava satisfeito com o
que coletou nos Vedas, ordenou nos Puranas,
e compôs no Mahabharata. A paz de
sua consciência não sancionava
seus esforços. Disse a ele internamente:
"Não, Vyasa! Você não
pode repousar contente com o quadro errôneo
da verdade que foi necessariamente apresentado
a você pelos sábios dos dias
de antanho! Você mesmo deve bater
à porta do inexaurível repositório
da verdade de onde os sábios anteriores
obtiveram sua riqueza. Vá! Suba até
a fonte da verdade, onde nenhum peregrino
se encontra com o desapontamento de qualquer
tipo. Vyasa o fez e obteve o que queria.
Todos fomos aconselhados a fazê-lo.
Liberdade,
então, é o princípio
que devemos considerar como o presente mais
valioso de Deus. Não devemos nos
permitir de sermos liderados por aqueles
que viveram e pensaram antes de nós.
Devemos pensar por nós mesmos e tentar
obter verdades novas, que ainda não
foram descobertas. No Srimad-Bhagavatam
(11.21.23), fomos aconselhados a aceitar
o espírito do shastra, e
não suas palavras. O Bhagavatam é
portanto uma religião da liberdade,
da verdade sem misturas, e do amor absoluto.
A outra característica é o
progresso. Liberdade é a mãe
de todo progresso. A sagrada liberdade éa
causa do progresso ascendente na eternidade
e na atividade infindável do amor.
A liberdade mal utilizada causa a degradação,
e o Vaishnava sempre deve cuidadosamente
utilizar este elevado e belo presente de
Deus.
O
espírito deste texto vai longe ao
honrar os grandes reformadores e professores
que viveram e viverão em outros países.
O Vaishnava está pronto para honrar
a todos os homens sem distinção
de casta, pois eles estão repletos
da energia de Deus. Vejam quão universal
é a religião do Bhagavatam.
Não se destina apenas a uma certa
classe de hindus mas é um presente
à humanidade em geral, não
importa em que país nasceu nem em
que sociedade cresceu.
Em
resumo, Vaishnavismo é o amor absoluto
que une todos os homens ao Deus infinito,
incondicional e absoluto. Que a paz possa
reinar para sempre em todo o universo no
desenvolvimento contínuo de sua pureza
e pelo empenho dos futuros heróis
que, conforme a promessa do Bhagavatam,
serão abençoados com poderes
do Pai Onipotente, o Criador, Preservador
e Aniquilador de todas as coisas no Céu
e na Terra.
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Palestra
em inglês, em 1869, em Dinajpur, Bengala
Ocidental.