Ontem
alguém perguntou: "Como podemos compreender que Baladeva
Vidyabhusana esteja na linha de Visvanath Chakravarti
e Rupa Goswami?" Eles são na realidade protetores
de nossa sampradaya contra o ambiente ilusório
criado pelo grupo dos pandits.Quando Baladeva
Vidyabhusana começou a escrever o Govinda-bhasya,
primeiramente ofereceu reverências a Krishna, e depois
a Jiva Goswami. Ele considerou Jiva Goswami como sendo
nosso Guru que dá proteção contra os pandits.
Baladeva Vidyabhusana escreveu o seguinte pranam
mantram:
yah
samkya pankena kutarka pamsuna
vivartta-gartena ca lupta didhitim
suddham vyadhat vak sudhaya mahesvaram
krsnam sa jival prabhu rastta me gatih
Esse
verso é muito complexo, e é difícil para mim explicá-lo
em Inglês. Darei não a tradução literal mas o sentimento,
o bhava. Ele diz: Ofereço meus plenos dandavats
aos pés de lótus de Srila Jiva Goswami, protetor de
nossa vida espiritual. Ele nos resgata do ambiente
ilusório. Ele nos protege da filosofia sankhya
que é comparada a areia movediça. Quando os jivas
desejam atravessar o oceano de existência material,
primeiro têm de atravessar um pantanal de areia movediça.
Os infindáveis argumentos infrutíferos são comparados
às cinzas, à fuligem e à fumaça sopradas pelo vento
e que cobrem os olhos, o céu e tudo ao redor, não
permitindo que vejamos realmente o que está à nossa
frente. Tudo fica encoberto através do vento dos maus
argumentos, e não podemos ver Krishna.
Depois
ele menciona vivartta-gartena. Vivartta-vada
é a filosofia de Shankaracharya de nirvisesa-vada
que é comparada a um buraco na estrada. Desejamos
ir para Krishna mas não podemos. Por quê? Porque existem
muitas perturbações na estrada. A primeira perturbação
vem da filosofia sankhya; comparada à lama.
Não conseguimos atravessá-la e é um tipo de lama como
areia movediça da qual não se pode despegar. A próxima
perturbação é kutarka, que significa nyaya-sastra,
o argumento, que é comparado a uma rajada de fuligem
e fumaça.
Você
tenta mesmo assim continuar a sua jornada mas aparecem
subitamente grandes buracos escuros na estrada. Esses
buracos são como o vivartta-vada de Shankaracharya.
Ou seja, mayavada: vivartta-garttena cha
lupta didhitim.
A filosofia mayavada está esperando por você
na estrada como um buraco; se cair dentro dele, pode
se perder para sempre. Você perde seu corpo nesse buraco,
ninguém lhe dará água ou comida ou satisfação, lá não
existe nada, e lá você morre.
Mas Baladeva Vidyabhusana diz: Suddham vyadhat vak
sudhaya mahesvaram -"Jiva Goswami é o libertador
desse ambiente e mostrou Sri Krishna em Sua posição
exaltada" -jyotira bhyantare rupam atulam syamasundaram.
"Ofereço tudo que possuo a ele." É muito difícil para
mim explicar este verso em inglês, mas esse é um resumo
da linha do pensamento.
Assim, Jiva Goswami é nosso protetor, e Baladeva Vidyabhusana
é um pandit de igual nível. Ele foi iniciado
na Madhva-sampradaya e, mais tarde, após ler a literatura
de Jiva Goswami Prabhu e Visvanath Chakravarti Thakur,
tornou-se devoto da Gaudiya-Vaishnava- sampradaya
–que é a sampradaya de Mahaprabhu.
Tanto Radha-Govinda quanto Narayana são adorados no
palácio do Rei de Jaipur. A tradição era de sempre adorar
primeiro a Radha-Govinda e depois a Narayana. Mas havia
uma outra sampradaya que contestava isso, e
houve um grande conflito. Eles diziam: "Narayana deve
ser adorado primeiro e depois Radha-Govinda". E desafiaram
os Gaudiya-Vaishnavas: "Essa é uma Deidade dos Gaudiya-Vaishnavas,
portanto tragam qualquer Gaudiya-Vaishnava qualificado
de sua sampradaya. Vamos debater e certamente
o derrotaremos!"
Todos os Vaishnavas foram até Visvanath Chakravarti
que se encontrava em Vrindavana na ocasião. Ele estava
muito velho e indisposto para ir se ocupar num debate.
Ele pensou, "Os oponentes em Jaipur têm um argumento
péssimo mas não sabem disso."
Mas quem iria?
Baladeva
Vidyabhusana estava com Visvanath Chakravarti naquela
época. Visvanath Chakravarti examinou-o para ver se
era capaz de estabelecer nossa concepção da adoração
a Radha-Govinda antes da adoração a Narayana. Visvanath
Chakravarti ficou muito satisfeito e concluiu que ele
era a melhor pessoa para estabelecer esse princípio
Gaudiya-Vaishnava. Então, pediu a Baladeva Vidyabhusana
que fosse a Jaipur.
Ele
partiu sozinho rumo à assembléia do Rei de Jaipur, tomando
antes suas bençãos. Seu corpo era muito magro e tinha
toda a aparência de um Gaudiya-Vaishnava. Ele não era
muito velho; na época, devia estar entre os trinta e
quarenta anos. O rei devoto não ficou muito satisfeito
ao ver o jovem, mas, ao ver sua face brilhante, pensou
melhor, "Sim, os melhores representantes devem estar
todos velhos e incapacitados de virem, mas enviaram
esse jovem e brilhante devoto. Agora estamos ansiosos
de ver o queele é capaz de fazer."
Baladeva
Vidyabhusana então enfrentou o desafio da Ramanuja-sampradaya.
Os pandits da Ramanuja fizeram a primeira pergunta:
"Qual é o bhasya que o senhor segue?" A
palavra bhasya quer dizer interpretação. Naquela
época, uma sampradaya só era reconhecida se
possuísse um bhasya do Vedanta, um bhasya
do Upanisad, um bhasya do Visnu-sahasra-nama
stotra e um bhasya do Gita. Esse critério de
reconhecimento de uma sampradaya é mencionado
em muitos lugares. Não existia tal bhasya na
Gaudiya-sampradaya, por isso os pandits disseram:
"Não falaremos com você porque não está seguindo nenhuma
sampradaya." Baladeva Vidyabhusana respondeu:
"Se há tanta necessidade de tal bhasya para
que possamos conversar, dêem-me sete dias. Falarei com
os senhores daqui a sete dias, e lhes informarei sobre
qual bhasya estou seguindo."
Eles
responderam: "Certo, tire sete ou dez dias". Ele dirigiu-se
a Govindadeva, a Deidade de Srila Rupa Goswami, pediu
as bênçãos dos Vaishnavas de nossa sampradaya,
prostrou-se perante Govindadeva e pediu permissão para
fazer o bhasya.
Passaram-se
os sete dias, e ele encontrou-se novamente com os pandits
oponentes, e apresentou-lhes: "Estou seguindo este Govinda-bhasya
do Vedanta-darsan, que pertence à nossa sampradaya."
"Quem
é o autor?"
"Eu
mesmo."
Ele
compôs seu próprio bhasya como fizeram Shankaracharya
e Ramanujacharya. Os pandits ficaram surpresos
olhando para seu rosto e disseram: "Ele compôs isto
em sete dias somente. Ele é um grande pandit."
Baladeva
Vidyabhusa derrotou-os facilmente ao mostrar claramente
que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, e Narayana
vem de Krishna, não que Krishna vem de Narayana. Ele
estabeleceu esse princípio nesse encontro e provou que
Radha-Krishna devem ser adorados juntos por todos, e
que são a Suprema Personalidade. Os pandits
ficaram muito felizes, e esse processo de adoração a
Radha-Krishna seguido da adoração a Narayana é praticado
desde aquele dia até hoje em Jaipur.
Quando
escreveu o bhasya, ele primeiro ofereceu seus
pranams a Krishna e depois a Jiva Goswami.
Nele encontramos o seguinte sloka:
yah
samkya pankena kutarka pamsuna
vivartta-gartena cha lupta didhitim
suddham vyadhat vak sudhaya mahesvaram
krsnam sa jival prabhu rastta me gatih
Quando
Guru Maharaj explicava esse sloka, seu humor
e expressão mudavam tanto que, vendo sua face, parecia
como se ele fosse Jiva Goswami em pessoa. Era como se
o próprio Jiva Goswami estivesse sentado diante de nós!
Essa é a história do Govinda-bhasya, e foi assim que
Baladeva Vidyabhusana fez seus comentários. Baladeva
Vidyabhusana é adorado pelos Gaudiya-Vaishnavas desde
essa época, mesmo sendo apenas um jovem. Sua contribuição
é nossa riqueza.