Era
um daqueles restaurantes em que você
se serve à vontade das preparações
expostas em balcões aquecidos. Ela
pegou de tudo um pouco. Ele, por ser vegetariano,
escolheu cuidadosamente as preparações
que não continham carne, peixe, aves
nem ovos. Serviu-se de arroz, feijão,
verduras cozidas, uma torta de queijo e um
pouco de salada.
Nunca
comera carne em sua vida, pois nasceu numa família
vegetariana. Mesmo quando ainda era criancinha
e via as carnes dos bois penduradas nos açougues
e os peixes mortos nos balcões frigoríficos
dos supermercados sentia repulsa por aquele
tipo de comida. Perguntava a si mesmo como alguém
podia comer aquilo: era feio e fedido, e pingava
sangue como uma grande ferida aberta.
"Deus
criou tantas coisas lindas, perfumadas, coloridas
e saborosas para comer. Como pode alguém
comer troços de corpos mortos?
Ela
já sabia que ele era vegetariano e nunca
comera carnes. Mas não entendia bem essa
história de alguém ser vegeta-riano.
Muito menos entendia o porquê de alguém
não comer carne. Afinal, tudo no mundo
é alimento.
—
Por que você é vegetarino? Qual
a diferença entre alguém comer
uma picanha e comer uma alface –perguntou
ela.
—
É uma questão de sensibilidade
—respondeu ele.
Essa
resposta seria o suficiente para se entender
a razão principal de alguém ser
vegetariano. Leonardo Da Vinci, um dos mais
famosos vegetarianos da história, chegou
a afirmar que um dia os homens terão
a sensibilidade de perceber o comer dos animais
como uma forma de canibalismo.
—
Ah, mas carne, verduras, tudo é vida,
você também mata a alface para
comê-la.
Ela
continuava perplexa diante da opção
vegetariana. Masa colocação do
rapaz fora perfeita: sensibilidade, é
uma questão de sensibilidade.
—
Não é uma questão de matar
o alface ou não, pois todas as criaturas
se alimentam de vida. Mas é uma questão
de sensibilidade. Você mesma que come
carne não come certos tipos de carne,
não é?
—
É, tem umas carnes que eu não
gosto.
—
Os chineses, por exemplo comem ratos, miolo
de macaco, olho de bode, e dizem até,
baratas. Você comeria essas coisas?
—
Nossa, não, isso é horrível,
nojento!
—
Pois você vê, é uma questão
de sensibilidade sua que lhe permite perceber
que essas coisas são "horríveis
e nojentas". Pois para mim comer qualquer
tipo de carne é horrível e nojento.
Pôr em minha boca um pedaço de
qualquer tipo de defunto pingando sangue é
horrível e nojento, entende? É uma questão
de sensibilidade.