Srila
Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur
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Aceitamos
a responsabilidade de dar as boas-vindas
a esta carga grave. Enquanto o público
aceitou um assento comum, somente a mim
foi oferecido um assento imponente.
Está
sendo dito a todos de fato: "Dêem
uma olhada a um grande animal dos jardins
do zoológico. Quanta arrogância!
Tão tolo! Tão pecaminoso!
Vocês já tinham visto tamanho
bruto? Guirlandas de flores são
postas em volta de seu pescoço!
Quantas louvações! Quantos
adjetivos hiperbólicos, bombásticos
e prolongados! E com quanta complacência
ele também está ouvindo
o louvor de suas próprias realizações,
e quão intensamente e com seus
próprios ouvidos! É evidente
que ele também está deleitado
em sua mente! Não está ele
agindo em plena violação
aos ensinamentos de Mahaprabhu? Será
que tamanho bruto, tão egoísta
e insolente jamais pode vir a a ser resgatado
de tanta brutalidade?"
Acontece
que eu sou um dos maiores tolos. Ninguém
me oferece bons conselhos devido à
minha arrogância. Já que
ninguém condescende a me instruir,
apresentei meu caso diante do Próprio
Mahaprabhu. Veio-me o pensamento de que
deveria pôr-me sob os cuidados dEle
e ver o que Ele me aconselharia a fazer.
Então, Sri Chaitanya disse: "Quem
quer que você encontre, instrua-o
a respeito de Krishna. Por Minha ordem,
como um Guru, liberte esta terra; Ao fazer
isso, você não será
obstruído pela corrente do mundo;
você terá a Minha companhia
novamente neste lugar."
Nesses
versos encontra-se a explicação
apropriada da aparente inconsistência
exposta acima. Aquele cujo único
ensinamento é a humildade maior
que a de uma folha de grama disse: "Por
Minha ordem, como um Guru, salve esta
terra!" Nesse momento, o Próprio
Mahaprabhu deu essa ordem. Sua ordem era:
"Realize o dever do Guru, tal como
Eu Mesmo faço. Também transmita
essa ordem a quem quer que você
encontre."
Chaitanyadeva
diz: "Repita exatamente essas mesmas
palavras: 'Por Minha ordem, seja um Guru
e salve esta terra. Liberte as pessoas
de sua tolice'."
Agora,
quem ouvir estas palavras, naturalmente
protestará com as mãos juntas
em prece, dizendo: "Mas eu sou realmente
um grande pecador; como posso ser um Guru?
Você é o Próprio Supremo,
o Mestre do mundo. Você pode ser
Guru."
A
isso Mahaprabhu responde: "Ao fazer
isso, você não será
obstruído pela corrente do mundo;
você terá a Minha companhia
novamente neste lugar. Não pratique
a profissão de um Guru com o objetivo
de prejudicar os outros através
da malícia. Não adote o
negócio de ser um Guru para submergir
no pântano deste mundo. Mas, se
puder, na verdade, seja Meu servo sincero
e você será dotado com Meu
poder —assim, você não
precisa temer."
Eu
não tenho medo. Meu Gurudeva ouviu
isso de seu Gurudeva. E é por essa
razão que meu Gurudeva aceitou
até mesmo tamanho pecador como
eu e me disse: "Por meu comando,
seja Guru e salve esta terra". Somente
aqueles que nunca ouviram essas palavras
de Gaurasundar dizem: "Que bizarro
ouvir nossa própria glorificação!"
Enquanto
o Guru está instruindo seu discípulo
a respeito do décimo primeiro canto
do Srimad Bhagavatam, que tamanho pecado,
em sua opinião, ele não
estaria perpetrando! O que o Acharya
deve fazer ao explicar o verso onde Krishna
diz: "Acharya mam vijaniyat
(Eu sou o Acharya, o Guru)? Nunca desrespeite
o Acharya; jamais entretenha
a ideia de que o Acharya é
seu igual em qualquer sentido."
Essas
são as palavras do Próprio
Sri Krishna que beneficiam as almas jiva.
Será que o Guru deve se remover,
desertar de seu assento —do assento
do Acharya— de onde deve explicar
essas palavras?
Seu
Gurudeva conferiu a ele essa função.
Se ele não agir à altura
de suas exigências, ele estará
amaldiçoado à perdição
devido à sua ofensa contra o Santo
Nome na forma do desrespeito ao Guru.
Ele tem de fazê-lo, apesar de que
tal procedimento aparentemente o sujeita
aacusações de egoísmo.
Quando
o Guru transmite o mantra ao
discípulo, será que ele
não deveria ensiná-lo a
adorar o Guru? Deveria dizer ao contrário
que, "Bata com o sapato ou com o
chicote no Guru?" O Guru nunca deve
ser aviltado. O Guru é a morada
de todos os deuses. Será que Gurudeva
deve se abster de transmitir essas palavras
a seu discípulo ao ler-lhe o Bhagavatam?
"Somente àquele que possuiu
devoção espiritual sincera
pelo Gurudeva como a que é devida
ao Próprio Krishna é que
os mistérios sagrados serão
manifestos." Será que o Gurudeva
não deve dizer essas coisas a seus
discípulos? "Athau gurupuja:
a adoração do Guru tem precedente
sobre todas as demais adorações."
O
Guru deve ser servido tal como Krishna
é servido. O Guru deve ser adorado
de um modo particular. Será que
o Guru deve desertar de seu assento sem
dizer todas essas coisas ao discípulo?
No ângulo, encontramos sempre o
defeito na forma da ausência de
plenitude, que se encontra na igualdade
do nível de 180 graus ou de 360
graus. Mas na superfície plana,
nos 360 graus, não existe tal defeito.
As
pessoas comuns e tolas falham completamente
ao tentar compreender que no estágio
emancipado não existe possibilidade
de defeito. Conforme o ditado: "Depois
de começar a dançar, não
há maisutilidade de cobrir-se com
o véu".
Eu
estou executando o dever do Guru, mas
se eu pregar que ninguém deve gritar
"Jaya" para mim, ou
seja, se eu disser de modo indireto: "Cantem
Jaya para mim", isso não
seria nada menos do que duplicidade. Nosso
Gurudeva não nos ensinou esse tipo
de insinceridade. Mahaprabhu não
ensinou essa insinceridade. Tenho de servir
a Deus de modo franco, honesto.A
palavra de Deus descendeu até Gurudeva;
tenho que obedecê-la com toda sinceridade.
Não desrespeitarei o Guru nas instâncias
de qualquer sectarismo tolo ou malicioso,
especialmente, quando meu Sri Gurudeva
me orientou dizendo: "Por minha ordem,
torne-se Guru e salve esta terra."
Esta ordem foi pregada por meu Gurudeva.
Meu Gurudeva, por seu turno, transmitiu-me
essa ordem. Eu não serei culpado
de qualquer insinceridade ao defender
essa ordem. Nesse particular, não
aceitarei o ideal do sectarismo ignorante,
insincero e pseudo-ascético. Não
aprenderei a insinceridade.
As
pessoas de mentalidade mundana, os maliciosos,
os pseudo-renuncianes, os egoístas
não podem compreender como os devotos
de Deus, rejeitando tudo deste mundo pelo
comando de Deus, jamais, nem sequer por
um segundo, se desviam do serviço
a Deus nas vinte e quatro horas de seu
dia.
É
natural que pessoas sectárias e
hipócritas, seitas pseudo Vaishnavas,
seitas que nutrem internamente o anseio
por fama mundana pensem: "Que vergonha
que alguém fique ouvindo as glorificações
de seus discípulos, ocupando o
assento do Guru." Mas todo Vaishnava
considera cada Vaishnavas como objeto
de sua veneração.
Quando
Haridas Thakur exibiu sua atitude humilde,
Mahaprabhu disse: "Você é
o maior do mundo, a jóia principal
deste mundo. Concorde, e vamos comer juntos."
Ele carregou em Seus braços o corpo
de Thakur Haridas —que existe eternamente,
que é autoconsciente e pleno de
bem-aventurança espiritual.
Na
comunidade dos seguidores de Sri Rupa,
encontram-se plenamente presente as qualidades
de não desejar qualquer respeito
para si e de estar pronto a oferecer honras
aos outros. Aqueles que detectam qualquer
estranheza são como a coruja, cegos
diante do brilho do sol. Eles cometem
ofensas com tal conduta.
Se
eu desobedeço à lei que
descendeu até mim através
da corrente de sucessão preceptorial,
a ofensa devida à omissão
de executar o comando do Guru me desligará
dos pés de lótus de Sri
Gurudeva. Se eu tiver que ser arrogante,
rude, sofrer perdição eterna
a fim de executar o comando do Guru Vaisnava,
estou preparado a dar as boas-vindas a
tal condenação eterna e
até mesmo assinar um pacto nesse
sentido. Não ouvirei as palavras
de pessoas maliciosas em vez da ordem
de Gurudeva. Dissiparei com coragem indomá-vel
e convicção as correntes
de pensamentos do resto do mundo, confiando
na força derivada dos pés
de lótus de Sri Gurudeva.
Eu
confesso essa arrogância. Ao borrifar
uma partícula do pólen dos
pés de lótus de meu Preceptor,
centenas de milhares de pessoas como vocês
serão salvas. Não existe
um tal tipo de conhecimento neste mundo,
nenhum raciocínio lógico
nos catorze mundos e em qualquer homem
ou deus que possa pesar mais do que uma
partícula solitária da poeira
dos pés de lótus de meu
Gurudeva. Gurudeva, em quem eu tenho confiança
implícita, jamais pode me magoar.
Não estou preparado de modo algum
para dar ouvidos às palavras de
qualquer pessoa que deseje ferir-me ou
para aceitar tal pessoa maliciosa como
meu preceptor.