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Ai", lamentava-se o príncipe, "olhem para mim! Estou tão infeliz. Cheguei a ficar aos pés da Personalidade Suprema de Deus quem é capaz de cortar de imediato o aprisonamento ao ciclo dos repetidos nascimentos e mortes. Mas, mesmo assim, devido à minha tolice, implorei por coisas perecíveis."

Dhruva pensava que uma vez que os semideuses que vivem nos sistemas planetários superiores terão de descer para nascer novamente em formas humanas quando terminar o acúmulo de suas atividades piedosas, eles ficaram invejosos dele ter sido elevado a Vaikuntha através de seu serviço em devoção. Pensou que esses semideuses intolerantes dissiparam sua inteligência, e por isso ele não foi capaz de aceitar a bênção genuína das instruções do sábio Narada.

"Sinto-me sob a influência da energia ilusória", pensou Dhruva. "Sendo ignorante dos fatos, fiquei dormindo no colo da ilusão. Dominado por uma visão dual, vi meu irmão como meu inimigo e lamentei em meu coração, enquanto pensava que ele e sua mãe eram meus inimigos. É muito difícil satisfazer à Pessoa de Deus, mas, em meu caso e embora eu tenha satisfeito à Superalma de todo o universo, só Lhe pedi coisas inúteis. Minhas atividades se parecem ao remédio dado a alguém que já morreu. Vejam só como sou infeliz, pois, apesar de ter estado diante do Deus Supremo capaz de cortar qualquer ligação da alma com o ciclo dos nascimentos e mortes neste mundo material, eu pedi novamente pelas mesmas condições. Por ser eu um tolo completo e por minha falta de atividades piedosas, embora o Senhor me tenha oferecido Seu serviço pessoal, desejei renome material, fama e prosperidade. Meu caso é igual ao do mendigo que, tendo satisfeito um grande imperador que lhe ofereceu o que quisesse, devido à ignorância, pediu apenas alguns grãos de arroz quebrado."

Os devotos puros dos pés de lótus de Mukunda (a Personalidade Suprema de Deus que oferece a liberação)e que estão sempre apegadas ao néctar de Seus pés, permanecem satisfeitas servindo ao Senhor Supremo. Essas pessoas ficam felizes em qualquer condição de vida e nunca pedem a Deus por prosperidade material.

O Retorno do Príncipe

Quando o mensageiro trouxe a notícia de que o príncipe retornava ao palácio, foi como se o rei Uttanapada ressucitasse. Ele teve dificuldades de acreditar na mensagem, pois duvidava que isso pudesse acontecer. Ele se considerava o mais miserável dos homens, e pensava que não era possível que alguém como ele tivesse tamanha boa fortuna. Embora não pudesse acreditar nas palavras do mensageiro, teve fé nas palavras do sábio Narada. Estava feliz com a notícia e deu ao mensageiro um colar muito valioso.

O rei Uttanapada estava ansioso de ver o rosto de seu filho perdido. Subiu numa carruagem ornada com filigranas de ouro e puxada pelos mais velozes cavalos do reino. Convocou para acompanhá-lo brâmanes eruditos, os membros mais velhos da família, seus auxiliares, ministros e amigos próximos e partiu imediatamente da cidade ao encontro do filho.

Enquanto a alegre caravana prosseguia, produzia sons auspiciosos de búzios, tambores, flautas e o cântico de mântras sagrados para indicar a boa fortuna. Ambas as rainhas de Uttanapada, Suniti e Suruchi, acompanhadas do príncipe Uttama, juntaram-se à procissão. As rainhasiam sentadas no mesmo palanquim.

Ao ver o príncipe Dhruva aproximando-se da pequena floresta vizinha à cidade, Uttanapada desceu de sua carruagem apressado. Ele estivera ansioso por ver seu filho Dhruva e, então, tomado por amor e afeto profundos, correu para abraçar seu menino que reencontrava depois de tanto tempo e, arfante, abraçou-o.

Mas aquele Dhruva já não era o mesmo de antes; por ter sido tocado pela Personalidade Suprema de Deus, estava completamente santificado em seu avanço espiritual. O encontro com seu filho satisfez o desejo cultivado pelo rei que cheirava a cabeça do filho repetidamente e banhava-o com as lágrimas que rolavam em seu rosto. Então, Dhruva Maharaj, o principal entre os nobres, primeiro ofereceu seus respeitos ao pai e sentiu-se honrado de responder às várias perguntas que ele lhe fazia. Em seguida, curvou sua cabeça diante de suas duas mães.

Suruchi, a mãe mais jovem do príncipe Dhruva, vendo que o menino inocente se prostrara diante dela, levantou-o, abraçou-o, e, com lágrimas sentidas, abençoou-o dizendo: "Meu querido menino, desejo que você viva uma vida longa!"

É natural que as pessoas ofereçam suas honras à pessoa que se mostra dotada de qualidades transcendentais devido a seu comportamento amigável em relação à Pessoa de Deus.

Os dois irmãos Uttama e Dhruva também trocaram lágrimas. Eles se estavam dominados pelo êxtase de amor e afeto e, ao se abraçarem, sentiram arrepios pelo corpo.

Suniti, a verdadeira mãe de Dhruva, abraçou o corpo tenro e purificado de seu filho que lhe era mais querido que a própria vida, esquecendo-se de toda aflição material, frente à imensa felicidade e orgulho que sentia de seu filho amado. Suniti era a mãe de um grande herói. O corpo do príncipe ficou encharcado com suas lágrimas e também com o leite que fluía dos seios de sua mãe. Este era um sinal grandioso e auspicioso ao extremo.

Os residentes do palácio estavam comovidos com o desfecho dessa história e alguns elogiaram a Rainha dizendo: "Querida Rainha, seu filho amado ficou tanto tempo perdido, e sua maior fortuna é tê-lo de volta agora... Parece que seu filho poderá protegê-la por muito tempo e acabará com seu sofrimento material... A senhora deve ter adorado ao Senhor Supremo que sempre liberta Seus devotos dos piores perigos... As pessoas que meditam nEle sem cessar vão além do ciclo de nascimentos e mortes. Esta é a perfeição mais difícil de se alcançar."

Enquanto todos exaltavam as qualidades e as atividades extraordinárias do príncipe Dhruva, o rei sentia-se feliz demais. Ele sentou Dhruva junto a Uttama no palanquim de uma elefanta, e a caravana retornou à capital onde todos puderam glorificar o príncipe.

A cidade estava enfeitada de colunas feitas de bananeiras que continham arranjos de frutas, flores e galhos da noz de betel. Viam-se também portais em forma de arcos que pareciam tubarões. Em cada portão haviam lamparinas ardentes que queimavam óleos aromáticos, potes de água decorados com tecidos de diversas cores e estampas, colares de pérolas, guirlandas suspensas feitas de flores variadas e folhas de manga brilhantes. A cidade tinha muitos palácios, portões e muralhas que já eram bonitos de se ver e que, nesta ocasião especial, haviam sido enfeitados com ornamentos de ouro. As cúpulas dos palácios da cidade brilhavam igual às cúpulas das belas naves que pairavam sobre a cidade. As praças, vielas, ruas e avenidas da cidade, e ainda as arquibancadas elevadas instaladas nos cruzamentos, tinham sido lavadas e borrifadas com água de sândalo. Por toda parte, viam-se pilhas de grãos auspiciosos como arroz e cevada, e mais flores, frutas e outros presentes especiais espalhados de modo artístico.

Assim que Dhruva Maharaj passou pelas ruas, provenientes de todos os bairros, reuniam-se as damas ansiosas de vê-lo. Devido ao afeto materno que sentiam pelo menino príncipe, ofereceram-lhe suas bênçãos e despejaram sobre a caravana sementes de mostarda branca, cevada, coalho, água, grama verde, frutas e flores.

Passando lentamente por este cenário de celebração, o príncipe entrou no palácio de seu pai, tendo ao fundo o som das doces canções cantadas pelas senhoras da cidade.

O príncipe passou a residir no palácio do pai, cujas paredes estavam decoradas com jóias valiosas. Seu pai afetuoso passou a cuidar pessoalmente dele, fazendo com que vivesse com a mesma opulência dos semideuses em seus palácios dos sistemas planetários superiores.

A roupa de cama do palácio era tão branca quanto a espuma do leite e era muito suave ao tato. As estruturas das camas eram feitas de marfim com filigranas de ouro, e as cadeiras, os bancos, outros assentos e toda a mobília eram feitos de ouro. O palácio do Rei era cercado por muralhas de mármore com relevos esculpidos de lindas mulheres que seguravam em suas mãos lamparinas de jóias valiosas como safiras. A residência do rei ficava em meio a jardins com várias árvores trazidas dos planetas celestiais. Nessas árvores, viam-se casais de pássaros canoros e abelhas quase enlouquecidas que produziam um zumbido muito agradável. As escadarias eram enfeitadas por esmeraldas e conduziam a lagos cobertos de lírios e flores de lótus de várias cores, em cujas margens passeavam, banhavam-se e nadavam cisnes, karandavas, chakravakas, garças azuis e outros pássaros muito raros.

As atividades do príncipe eram maravilhosas ao extremo, e Uttanapada estava muito satisfeito de ver e ouvir falar a respeito das gloriosas atividades de seu filho e de ver o quão influente e grandioso ele era. Depois de considerar em profundidade todos os aspectos e percebendo que Dhruva estava a madurecido para encarregar-se do reino Uttanapada decidiu empossar o príncipe como imperador da Terra, tendo o apoio de seus ministros e de todos os cidadãos que também o amavam muito. O rei também levou em consideração sua idade avançada e deliberou sobre seu bem-estar espiritual. Desapegou-se dos negócios mundanos e decidiu retirar-se para a floresta, para viver junto aos sábios e santos.

Pouco tempo depois, o agora imperador Dhruva casou-se com a filha de Prajapati Sisumara que era conhecida como Bhrami, com quem teve dois filhos. O poderoso imperador teve ainda outra esposa chamada Ila, filha de Vayu, o semideus do vento. Com ela teve um filho e uma filha.

 

 
 
 

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