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Leito de
Fogo da Separação
O
serviço virá do coração
Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj
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Depois
de sua assim-chamada renúncia (sannyasa), Mahaprabhu
permanenceu no mais profundo humor de separação por doze
anos no Gambhira, seu quarto em Jagannath Puri. Srila
Sridhar Maharaj escreve em seu Prema Dhama Deva
Stotram:
sri
svarupa raya sanga gambhirantya-lilanam
dvadasavdha banhi garbha vipralambha silanam
radhikadhirudha bhava kanti krsna kuñjaram
prema dhama devam eva naumi gaurasundaram
"Seus
passatempos culminaram no gambhira-lila com Seus
mais íntimos associados Sri Svarupa Damodara e Sri Ramananda
Raya. Por doze longos anos Ele permaneceu no leito de
fogo do profundo sentimento de separação por Krishna
que Ele apreciou e discutiu com Seus associados. Ao
mesmo tempo, Ele era como um elefante intoxicado com
amor por Radharani e todo Seu ser vibrava com radha
bhava. Dessa forma, Ele ficou completamente belo
com a refulgência de Sri Radhika. Eu canto com alegria
as glórias intermináveis de meu Senhor dourado Gaurasundara,
o belo, a residência divina do Amor puro."
Srila
Guru Maharaj descreve um "leito de fogo". E o tipo de
fogo podemos notar na poesia de Madhavendra Puri, em
seu sloka composto enquanto convalescia. Madhavendra
Puri estava deitado em seu leito de morte. Nessa ocasião,
este sloka a respeito do serviço também surgiu
de sua boca de lótus. No Chaitanya Charitamrita está
escrito que: "Este sloka é falado por Radha Thakurani.
Pela misericórdia dela, o mesmo apareceu nos lábios
de Madhavendra. O quanto Mahaprabhu saboreou esta poesia!
Não existe uma quarta pessoa que possa saborer esse
sloka."
"Não
existe uma quarta pessoa que possa saboreá-lo." Um comentário
muito forte: a própria Radharani entrou no leito de
fogo da separação, e Ela manifestou este sloka.
E Madhavendra Puri, na hora de sua partida deste mundo,
obteve essa misericórdia. Que tipo de misericórdia?
Você vê que o sentimento mais profundo de separação
de Krishna está enlouquecendo as pessoas, mas elas não
estão ficando totalmente loucas. Depois disso, qual
é a posição que virá quando a pessoa ainda não obteve
Krishna? Essa posição é de separação profunda e desesperança.
Uma desesperança e uma profunda separação (tanra
kripaya sphuriyache madhavendra-vani).
Sem
esperança. Quando vemos que não há esperança para nossa
consciência de Krishna, nesse momento, advém uma separação
profunda no coração, e, nisso, a felicidade vai embora.
"Estou pensando que não há esperança –o que farei
agora (dayita bhramyati)?" Ao explicar esse verso,
Srila Guru Maharaj expressou os mais profundos sentimentos
que jamais ouvimos, mas não desejo dizer o que eles
são. Seria demais. De qualquer maneira…
Radharani,
Madhavendra, Gaurachandra –mas não um quarto homem.
Mas havia Nityananda Prabhu e outros devotos muito exclusivos.
Pelo menos quatro estavam constantemente com Mahaprabhu.
Renúncia!
Sim. Serviço não é somente ou sempre físico. Não é algo
que sempre pode ser observado fisicamente. Serviço nem
sempre é executado física ou mesmo mentalmente. Mas
aquele que está totalmente dedicado, verá o serviço
surgir de seu coração.
E
não há renúncia, do maior ao menor devoto –por
toda parte– o mundo do serviço é como esse sevamaya
bhumika (a terra da dedicação). Ao descrever Seva
Bhumi (a terra do servir), ou qualquer coisa espiritual,
é sempre necessário utilizar a palavra chinmaya
(transcendental,) para deixar claro que estamos falando
de uma conexão divina com o plano transcendental. Se
a pessoa estiver vivendo dentro do plano transcendental
da dedicação, todas suas ações no plano transcendental
são para o serviço a Krishna: comer, dormir, trabalhar,
tudo o que for feito será serviço. Tudo será serviço
lá. E Mahaprabhu diz que o melhor serviço é sravan,
kirtan (ouvir e falar a respeito de Krishna).
prabhu
kahe–age kaha, sunite pai sukhe
apurvamrita-nadi vahe tomara mukhe
Quando
Raya Ramananda explicava os passatempos de Radha e Krishna,
Mahaprabhu disse: "Fale-me mais e mais –repetidamente
e outra vez mais. Eu estou sentindo tanta felicidade.
Isso é um oceano de néctar!"
Nossa
idéia é que oceano é algo salgado. Mas a conversa a
respeito de Krishna e Seus passatempos é um oceano de
néctar. As escrituras também dizem que todos somos de
fato crianças de um oceano de néctar (srinvantu visve
amritasya putra). Assim, não deveria haver qualquer
mau gosto, pois nossa riqueza original é néctar, mas,
por estarmos cobertos pela ilusão, tudo fica ruim. Assim,
é preciso sair de sob essa ilusão.
Qual
foi o oceano que foi batido pelos deuses e demônios?
Era um oceano de leite (kir –leite condensado).
E desse oceano apareceu a Lua, Laksmi Devi, Airavata
(o elefante celestial de Indra) e a Vaca Divina –Surabhi.
Assim como a Lua se elevou sobre o oceano de néctar,
Krishna se elevou sobre a família de Nanda Maharaj (nanda-kula-chandra).
O sloka de Rupa Goswami neste particular é muito
belo: kva nanda kulachandra. Chandraka
também se relaciona ao pavão:
alola-chandraka-lasad-vanamalya-vamsi-
ratnangadam pranaya-keli-kala-vilasam
syamam tri-bhanga-lalitam niyata-prakasam
govindam adi-purusam tam aham bhajami
"Eu
adoro Govinda, o Senhor Primordial, quem porta uma guirlanda
de flores de Vrindavan que balança de um lado a outro
pendurada em Seu peito. Sua cabeça está adornada com
um broche de pena de pavão; enquanto Suas mãos enfeitadas
com jóias tocam a flauta. Ele Se deleita eterna-mente
em passatempos de Amor Divino e em Sua forma sinuosa
e delicada de beleza divina escura (Shyamasundar)."
(Sri Brahma Samhita)
A
poesia de Rupa Goswami expressa de modo tão belo o humor
de separação de dentro do coração de Radharani:
kva
nanda-kula-chandramah
kva sikhi-chandra-kalankrtih
kva mandra-murali-ravah
kva nu surendra-nila-dyutih
kva rasa-rasa-tandavi
kva sakhi jiva-raksausadhir
nidhir mama suhrittamah
kva tava hanta ha dhig vidhih
"Onde
está a Lua que nasceu na família de Nanda? Onde está
aquele que usa uma pena de pavão? Onde está o som profundo
de Sua flauta? Onde está a minha safira azul brilhante?
Onde esta o rasa da Dança Rasa? Onde, meu amigo,
está a cura para o sofrimento em que se converteu a
minha vida? Onde está o melhor amigo de meu coração?
Diga-me, onde? Sem ele, amaldiçôo a vida que estou
destinada a viver!" (Lalita Madhava de Rupa Goswami)
Há
muitos slokas que vimos e que expressam o sentimento
de separação de Radharani ou outros devotos, mas nenhum
deles é como:
ayi
dina-dayardra natha he
mathura-natha kadavalokyase
hridayam tvad-aloka-kataram
dayita bhramyati kim karomy aham
Discípulo:
Srila Gurudeva, esse sloka é muito difícil
de entender, pois parece superficialmente tão simples.
Srila
Gurudeva: No Chaitanya Charitamrita, o
próprio Krishna revela que a punição de suas bem-amadas
rouba sua mente para longe das preces dos Vedas (priya
yadi mana kari’ karaye bhartsana, veda-stuti haite hare
sei mora mana). Na realidade, tudo se relaciona
a este sloka (ayi dina dayardra natha).
Um dia, isso será revelado, e seremos capazes de entender
seu significado. Isso é bom. Mas é verdade que ainda
que o próprio Kaviraja Goswami conhece o significado
interno, ele não afirma, "Eu sei". Aquele que sabe jamais
declara, "Eu sei o significado do sloka". E essa
é a dificuldade. Na verdade, não é uma questão de saber
ou não saber, ou de ser conhecido ou desconhecido. É
uma questão de vida e morte!
ka-i-avarahi-am
pemmam na hi hoi manuse loe
ja-i hoi kassa virahe hontammi ko jia-i
"A
não ser na falsa exibição dos trapaceiros, o verdadeiro
prema não pode ser encontrado num ser humano
neste mundo. Para aquele que realmente tem prema,
a separação resulta em morte (pralapo vyadhir unmado,
moho mrityur dasa dasa)."
kaitava
krsna-prema, yena jambunada-hema,
sei prema nriloke na haya
yadi haya tara yoga, na haya tabe viyoga,
viyoga haile keha na jiyaya
"Igual
ao ouro dos planetas celestiais, o Krishna prema
não existe na sociedade humana, somente é exibido pelos
pretensiosos. Quem realmente possui amor por Krishna,
não pode viver sem ele por um instante. A separação
o impossibilita."
Mas
Mahaprabhu ficou submerso nas profundezas do Radha-bhava
na sua "sala da caldeira" (Gambhira) vinte e quatro
horas ao dia pelos últimos doze anos de sua vida (dvadasavdha
banhi garbha vipralambha silanam). Aqueles que possuem
Krishna prema não podem viver sem Krishna, mas
Mahaprabhu viveu num leito de fogo de Krishna prema
durante doze anos! Isso é inconcebível.
Esta
condição manifestou-se e intensificou-se gradualmente
na medida em que o lila de Mahaprabhu progredia.
Advaita Acharya tinha pedido a Krishna que descendesse
a este mundo em Sua forma de Mahaprabhu para salvar
as almas caídas. Mahaprabhu recebeu o recado de Advaita
Acharya através de um poema místico de que esse desejo
já tinha sido satisfeito, e que Mahaprabhu podia agora
satisfazer Seu próprio desejo interior como ele quizesse
(sri-radhayah pranaya-mahima kidriso vanayaiva).
O
Poema Louco de Advaita Acharya:
baulake
kahiha, –loka ha-ila baula
baulake kahiha, –hate na vikaya chaula
baulake kahiha, –kaye nahika aula
baulake kahiha, –iha kahiyache baula
"Diz
o homem louco –todo mundo está louco,
Diz o homem louco –o varejo de arroz está ruim,
Diz o homem louco –o mercado louco está ruim,
Diz o homem louco –quem fala está louco!"
Ao
recebermos um ou dois doces (sandesha), nosso
coração se enche de muito júbilo. Comemos esses sandeshas
com grande felicidade. Mas, ao estarmos em meio a milhares
e milhares de sandeshas, perderemos todo interesse
em comê-los. O significado da terceira linha "baulake
kahiha, –kaye nahika aula": aquilo que ele
deseja dar, a doçura divina do Krishna prema,
já foi dada em abundância –não há necessidade
de dar mais. Fomos mergulhados num oceano de doçura
nectárea. Se estivermos rodeados por milhares de sandeshas,
então ninguém comprará, nem comerá. Mahaprabhu inundou
o mundo com Krishna prema através de seu nama
sankirtan e então entrou no leito de fogo da separação.
Antes
de Seus passatempos finais (Antya Lila), Mahaprabhu
também Se encontrava no leito de fogo da separação mas,
às vezes, saia dEle –ia e vinha, ia e vinha. Mas,
quando recebeu a notícia de Advaita Acharya de que,
"Não há mais necessidade disso", então, Ele satisfez
o Seu próprio desejo e começou a saborear exclusivamente
o sentimento de separação profunda de Radharani; vinte
e quatro horas ao dia pelos últimos doze anos de Sua
vida (radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krsna-svarupam).
Advaita
Acharya não disse a Mahaprabhu diretamente mas falou
de modo cifrado que encerrasse os Seus passatempos de
nama sankirtan. Ao lhe ser perguntado, Mahaprabhu
disse que Swarup Damodar sabia o significado do "Poema
Louco de Advaita." Mas Swarup Damodar estava numa posição
nebulosa e submeteu a Mahaprabhu: "Qual é o significado
disso?" Ele sabe tudo, mas para estar duplamente seguro,
ele pediu a opinião de Mahaprabhu. Mahaprabhu sugeriu
que Advaita Acharya é o único que sabe o porquê dele
contratar uma Deidade e depois libertá-la. Mahaprabhu
disse, "Talvez esse seja o significado, eu não sei."
Mas Mahaprabhu sabe, Swarup Damodar sabe, e, desse dia
em diante, o estado emocional de Mahaprabhu mudou dramaticamente;
Seus sentimentos de separação de Krishna começaram a
duplicar em intensidade e magnitude.
Guru
Maharaj compôs os slokas do Prema Dhama Deva
Stotram não em um ou dois dias, mas em profunda meditação,
gradualmente, ano após ano. Primeiro, Guru Maharaj compôs
doze slokas. Então, ele expandiu esse –expandiu,
expandiu, expandiu… Desse modo, ele gradualmente incluiu
todos os passatempos de Mahaprabhu (Gaura-lila).
Quando Srila Bhakti Prajñan Keshava Maharaj ouviu essa
composição, ele disse: "Impossível! Ninguém pode competir
com Sridhar Maharaj". Porque ele viu que Srila Guru
Maharaj incluiu dentro de sua poesia a filosofia de
Mahaprabhu de achintya-bhedabheda siddhanta.
Primeiro
publicamos doze slokas no Gaudiya Darshan. Assim,
no início eram doze slokas e depois foi crescendo,
e crescendo, e crescendo, até ficar com setenta versos.
Srila Guru Maharaj inseriu nele toda a Gaura-lila.
Srila Guru Maharaj teve essa idéia. No Prema Dhama Deva
Stotram, ele representou em plenitude o carater e os
passatempos de Mahaprabhu, incluindo o "leito de fogo"
da separação que caracteriza os últimos doze anos de
Seus passatempos divinos.
Se
uma pessoa não leu o Chaitanya Charitamrita, o Chaitanya
Bhagavata, o Chaitanya Mangal, os Kadachas (notas) de
Swarup Damodar, os Kadachas de Murari Gupta, não há
problema. Pode simplesmente ler o Prema Dhama Deva Stotram
e obter tudo.
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Depois
de assim glorificar plenamente Srila Guru Maharaj, Srila
Govinda Maharaj reentrou em seu sentimento profundo
de separação e começou a cantar:
jaya jaya sundara nanda kumara...
abhinava
kutmala guccha samujjvala kuñchita kuntala bhara, pranayi
janerita vandana sahakrota churnita vara ghanasara...
etc.
–do inconcebivelmente belo Gitavali no Stavamala
de Rupa Goswami.
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Transcrito
por Sripad Bhakti Suddhir Goswami Maharaj
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