Devemos
ter fé firme na Divindade. Somos absolutos
infinitesimais, e é apenas apropriado que nos
associemos com o Absoluto. Se nos sentirmos apreensivos
(encabulados) de fazê-lo, é provável
que nos enredemos com os assuntos efêmeros deste
mundo. Aqueles que são amigos estão
conosco apenas por um curto período de tempo.
Eles nos abandonarão a qualquer momento, quando
forem chamados a sair deste mundo.
O
que quer que façamos, deveríamos tender
a nos associar com a Divindade e não nos envolvermos
com qualquer trabalho nosso que tenha objetivos temporários.
Dependemos dEle. Por sermos infinitesimais, precisamos
ter nossa posição final nEle.
Todas
as nossas atividades devem ser rexecutadas para satisfazer
exclusivamente aos propósitos dEle. Não
é bom que pensemos que temos qualquer outra
coisa a fazer. Ao contrário das pessoas em
geral, precisamos obter um método de direcionar
tudo apenas para Ele, para o Seu serviço.
O
corpo grosseiro externo não pode viver mais
do que cem anos. Nossas especulações
mentais estão comprometidas a nos fazer continuar
em nossa atual forma humana. Mas, num dado momento,
seremos obrigados a deixar esta perturbação
mortal, e cessarão nossas transações
com o mundo externo, não importa nosso ardor
a respeito de manter-nos associados com a natureza
manifestadora das coisas.
Se
desejamos nos associar com o Absoluto, é preciso
que abandonemos, dentro de nossas possibilidades,
toda propaganda não absoluta que nos leva a
alcançar nossos objetivos temporários;
caso contrário, nos converteremos em meros
materialistas. Essa propaganda não absoluta
nos instigará a nos enredarmos com pensamentos
e idéias mundanos. Estaremos pensando sobre
os desenvolvimentos físicos, em vez de nos
associarmos ao Absoluto.
Todos
somos absolutos, ainda que infinitesimalmente pequenos.
Já que mostramos desconfiança, provamos
essa nossa desconfiança de nos associarmos
a Ele. Desse modo, tal como cometas, fomos arrojados
para longe dEle.Nos rebelamos contra essa Entidade.
Agora, para retornarmos a Ele, é essencial
que todas nossas associações e movimentos
tendam a Seu serviço.
Mas
antes de tudo, Ele precisa ser designado. Quem é
Ele? Que forma Ele tem? E como poderemos retornar
a Ele? Quando soubermos que Ele Se mantém aparte
de tudo neste mundo fenomenal, sentiremos a necessidade
de nos associar a Ele. E esta associação
pode ser obtida se formos capazes de eliminar os impedimentos
externos que são como barreiras entre o Infinito
Absoluto e os infinitesimais absolutos.
Nossas
especulações mentais objetivam a associação
com os objetos fenomenais. Mas alguns filósofos
consideraram que seria possível dirigir nossas
especulações mentais a Ele em Sua forma
abstrata, em vez de em Sua natureza manifestadora.
Mas aqui, obtivemos a Sua natureza manifesta com o
propósito de nos associarmos a Ele.
Não
podemos ter esta associação por meio
de qualquer tipo de privação. Os objetos
fenomenais são indesejáveis. Ainda que
exerçam algum efeito sobre nós, são
transitórios e não nos proporcionarão
o bem até o final dos tempos. Não pensamos,
igual aos materialistas, que nossa existência
cessará. Os materialistas pensam que tudo termina
quando morremos –que todos nossos problemas
terminarão com a morte. Esta idéia miserável
deveria ser descartada.
Precisamos
ocupar todas nossas atividades para nos associarmos
ao Absoluto, já que nós mesmos somos
associados infinitesimais.
Não somos o corpo, nem a mente, nem a atmosfera
externa, de quem precisamos nos dissociar. Estas situações
indesejáveis precisam ser eliminadas a todo
custo, caso contrário seremos absorvidos pelos
objetivos baixos deste mundo.
Várias
pessoas usam os animais inferiores como comida. Na
antiguidade, quando o canibalismo prevalecia no mundo,
as pessoas costumavam comer carne humana. Eles pensavam
que o corpo humano destinava-se a seu consumo. Mais
tarde, quando a civilização progrediu,
as pessoas abandonaram o canibalismo, mas continuaram
a comer a carne de animais inferiores. Na Índia,
as pessoas que pertencem a castas elevadas não
comem alimento animal. O desenvolvimento do pensamento
religioso acabou com a prática da crueldade
contra os animais que era praticada de várias
formas. A ciência agora provou que os vegetais
também têm vida e que são capazes
de sentir dor e prazer.
Não
se trata de cometermos suicídio abstendo-nos
de todo tipo de comida. Este problema é resolvido
quando o alimento se destina a satisfazer o Absoluto.
Tudo
veio dEle e deve retornar a Ele, e tudo se destina
a Seu serviço. Todos os objetos animados e
inanimados provêm dEle e destinam-se apenas
a servi-lO. Ao nos apropriarmos das coisas, estamos
enganando o Absoluto. Somos absolutos infinitesimais
e estamos iludidos pelo carater manifesto dos fenômenos
mundanos. Temos de nos livrar desta ilusão.
Precisamos obter um vislumbre e alcançar a
Verdade.
Se
formos sinceros, Ele Se mostrará à nossa
visão. O que quer que façamos, devemos
fazê-lo para Ele, para satisfazer os Seus objetivos
eternos, em vez de indulgirmos nas transações
transitórias. Nossa função não
é de apenas executarmos nosso trabalho para
satisfazer a nós mesmos. Não deveríamos
ser os beneficiários dos frutos de nossos empreendimentos.
O melhor para nós é que façamos
tudo a favor dEle e em Seu serviço. Somos servos.
Se mantemos cães, seremos servos de cães.
Se mantemos cavalos, seremos servos de cavalos, e
se nos tornamos altruistas, seremos servos apenas
de seres humanos. Mas é o Absoluto quem precisa
ser servido a todo custo.
Precisamos
considerar indispensável que todas nossas atividades
tendam a Seu serviço. Todos os seres animados
ou inanimados emanaram dEle. Deveríamos servir
ao Absoluto e não nos ocuparmos no que não
é absoluto.
A
maioria das pessoas está perdida ao tentar
entender o que deveria fazer e qual é seu destino.
Tais pessoas somente percebem o lado superficial das
coisas, sendo que este lado externo das coisas é
bastante ilusório. Por sermos pessoas inteligentes,
precisamos ter muito cuidado. Precisamos adentrar
tudo do modo apropriado. Nossa visão não
deveria ser obstruída pela representação
morfológica das coisas, nem por seu lado ontológico.
A
organização metodológica dos
fenômenos não deveria se restringir a
nosso objetivo ordinário de apenas viver. Mas
já que nossa meta é vivermos uma vida
pacífica, não desejamos ser perturbados
pelos elementos indesejáveis do mundo. Às
vezes, por seguir regras e normas e pelo respeito
aos princípios cívicos, encontramos
um pouquinho de paz. Mas, novamente, temos problemas
devido a uma ou outra divergência das pessoas
de fora. Existe uma agência operando ao fundo
que não se expõe a nossos sentidos atuais.
Nossos
nervos sensoriais são muito incapazes no que
se refere ao objetivo de permitir uma associação
com a verdade. Somos enganados pela aparência
de devoção e de verdade que as pessoas
podem exibir frequentemente.
As
características externas, as fases morfológica
e ontológica das coisas, algumas vezes são
consideradas prejudiciais à nossa causa, quando
ambicionamos estabelecer um contato com o Absoluto.
Temos a possibilidade de obter a experiência
dos últimos dez mil anos. Podemos julgar e
discernir o melhor método a adotar, em vez
de indulgirmos na maneira como as pessoas mundanas
realizam seus afazeres à nossa volta.
Nossos
sentidos reagem rapidamente aos objetos fenomenais.
Objetos super-sensoriais são simplesmente negligenciados.
As representações eternas, as manifestações
eternas e os aspectos eternos são completamente
negligenciados. Ansiamos poder tirar o máximo
proveito do contato com todas as coisas desejáveis.
Em
nossa vida atual, descobrimos que tudo isso é
traiçoeiro e apenas nos conduz exclusivamente
à satisfação de nossos sentidos.
Esta propaganda não absoluta precisa parar.
O que quer que possamos fazer, precisamos considerar
que nem deveríamos nos sentir tímidos
nem indolentes de oferecermos nossos serviços
ao Absoluto.
A
palavra "Absoluto" é explicada de
várias maneiras. Experimentamos os objetos
de fenômenos não absolutos e indesejáveis.
Nossa mente é vista como dotada de uma natureza
não absoluta. A mente discerne todas as coisas
como sendo apenas objetos sensoriais. Descreve-se
que o Absoluto Se reserva o direito de não
ser exposto aos senti-dos humanos. Se o Absoluto fôsse
um objeto fenomenal, estaría sob nosso domínio.
Mas essa não é a situação
correta. Devemos nos dedicar como Seus servos. Não
pensemos que nós é que somos os desfrutadores
e que Ele é o objeto predominado de nosso prazer.
Ele jamais é tal coisa.
Somos
obrigados a passar por diversas situações
indesejáveis e desejamos nos livrar de tudo
isso. Nosso impulso interno tem de ser de acessarmos
a região onde todos os objetos nos oferecem
uma oportunidade especial de nos associarmos ao Absoluto.
Nosso objetivo deveria ser de nos associarmos com
a plenitude, com a eternidade, com a pureza e com
o melhor de tudo que é desejável, e
não de nos misturarmos com as coisas temporárias
da natureza ilusória.
Não
deveríamos ter uma idéia aleijada do
Supremo. Devemos esperar que a mensagem transcendental
chegue plena até nós. Teremos então
uma oportunidade de nos associarmos com Ele. Precisamos
de um tempo para progredir na investigação
da Transcendência.
Somos
muito pequenos. Alguma influência avassaladora
vem sobre nós e temos problemas. Assim, é
melhor recorrermos ao Infinito Absoluto. Não
deveríamos agir como cometas que se distanciam
dEle, mas que retornam à sua morada original.
Lá, nossa natureza manifesta encontra-se sempre
presente, enquanto que aqui os objetos fenomenais
servem apenas por poucos dias. Desse modo, é
preciso que convertamos este benefício eterno
em nosso objetivo. Se tivermos a deteminação
para nos associarmos exclusivamente com a Entidade
Total, seremos capazes de ignorar todas estas influências
da natureza, toda influência das descobertas
científicas.
Existem
muitas coisas ocultas e não reveladas a nós
e que precisam ser recebidas através de nossa
recepção aural. Precisamos treinar nossos
nervos auditivos para torná-los suscetíveis
às ondas sonoras do mensageiro transcendental,
pois, desse modo, seremos capazes de progredir rumo
à Transcendência.
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(Esta
conversa teve lugar em 1 de setembro de 1936 e foi
publicada originalmente na revista "The Hamonist"
em 20 de janeiro de 1937, mais tarde republicada na
íntegra no "Sri Gaudiya Darshan"
de 1983.)