Pergunta:
Não consigo compreender este mundo.
Resposta:
É vida em campo. Este mundo não é
nossa morada original. Destina-se a certos objetivos.
Depois disso, devemos prosseguir para nosso lar original.
Este mundo não é um lugar desejável.
Não é bom se ficar atraído a ficar
aqui por longo tempo, esquecendo de nossa morada original,
onde ficamos com o Supremo. Somos os servos eternos
do Supremo.
Quando
decidimos nos assenhorear do universo, recebemos estas
facilidades com objetivos temporários. Elas não
servem a nossos objetivos eternos. Seria melhor que
buscássemos um lugar onde pudéssemos encontrar
a paz verdadeira. Aqui, estamos sempre sujeitos a sofrer
perturbações.
Por
meio dessas perturbações, a Providência
deseja nos ensinar que o mundo não é nosso
habitat eterno, mas que toda paz verdadeira deve ser
encontrada nEle. Sendo assim perturbados, naturalmente
gostaremos de retornar à região original.
A
vida neste mundo deveria ser conduzida de modo pacífico,
em vez de ser no espírito de retaliação.
Deveríamos aprender a sofrer todas essas coisas
submetendo-nos a Seus Desejos Divinos. Se fizermos isso,
poderemos obter essa mesma paz aqui. É devido
à nossa ambição de dominar que
somos trazidos para cá. As condições
aqui são tais que interligam cada posição.
Se
exigimos mais do que o que nos é permitido, temos
problemas. Deveríamos, melhor, retornar à
nossa própria posição, a nosso
único amigo. Ele é o único Abrigo
para todas nossas necessidades e desejos. Mas, se pegamos
a carga da responsabilidade sobre nós mesmos
para correr rumo ao erro, acabamos tendo problemas na
forma de nossas transações diárias.
Não deveríamos cair em tal tentação.
As
ofertas do cultivador da estética destinam-se
a nos iludir, quando nos levam a pensar que este mundo
é um local confortável. Toda melhoria
real deveria levar ao Supremo. Deveria nos oferecer
todas as coisas úteis por meio das quais nos
livrarmos dessas tentações.
Desde
que somos humanos, deveríamos emprestar nossos
ouvidos para conhecer a melhor situação
do mundo transcendental onde são exibidos os
melhores aspectos da Realidade. Aqui, sofremos com as
dificuldades de nossa visão eclipsada. É
portanto melhor procurar pela região onde estão
em voga todos os tipos da Natureza manifesta.
Os
servos do Supremo sempre cuidarão de nosso interesse.
Aqui, nossos amigos algumas vezes gostam de nós
e outras vezes viram-se contra nós. Mas existe
aqui a oportunidade de ouvir a respeito de nosso lar
original dos lábios de pessoas muito familiarizadas
com ele. Se negligenciarmos essa oportunidade, com o
tempo nos arrependeremos. Suas palavras nos elevarão
e mudarão a nossa mentalidade.
Todo
tipo de perguntas complexas serão resolvidas,
se ouvirmos essas pessoas que têm muito pouco
a ver com este mundo. Nossa situação neste
mundo está sujeita a mudanças, como nevoeiros
e fogs. Por sermos pessoas inteligentes, ao invés
de sermos inexplicavelmente desconfiados, nossa natureza
prudente deveria nos permitir ouvir de vez em quando
a respeito do mundo transcedental e da natureza manifesta.
Uma atitude incrédula não nos concederá
essa oportunidade.Este corpo externo será trocado
como também nossa situação atual.
Mas possuímos uma estrutura transcendental. Tão
logo aprendamos que a estrutura transcendental está
funcionando emnós, este dispositivo mortal deixará
de nos perturbar.
As pessoas no Ocidente pensam que a mente é a
alma. Diferimos deles. Existe uma vasta literatura na
Índia dando suporte ao ponto de vista de que
a alma é a proprietária da mente. A mente
é a procuradora da alma para lidar com o mundo
externo em cinco tipos de relacionamentos diferentes,
como esposo e esposa, mestre e servo, pais e filhos,
como amigos e de modo neutro. A alma está agora
totalmente absorta por uma agência extrangeira.
O corpo é diferente da roupa que o cobre. A alma
está revestida pelos corpos materiais grosseiro
e sutil. Esses corpos destinam-se a ser usados pela
alma por um certo período.
Quando
a atividade verdadeira torna-se latente, a mente apenas
atua com o ímpeto dos sentidos, cobrindo a alma
com as substâncias moleculares materiais. Mas
a alma é a entidade verdadeira. Os sentidos são
os objetos operantes, alguns para uso externo e outros
para uso interno.
O
denso exerce uma atração sobre as pessoas
comuns. Destina-se a tais pessoas. Até mesmo
os assim-chamados filósofos são vistos
subscrevendo o slogan de que o corpo material grosseiro
deveria ter preferência em todos os assuntos religiosos
deste mundo (sariram adhyam kalu dharma sadhanam).
Eles estão muito envolvidos com as coisas materiais
grosseiras e sutis, ignorando a própria saúde
da alma. As coisas materiais mudarão. Esta mudança
algumas vezes nos concede facilidades e, outras vezes,
cria obstáculos a nosso progresso. Mas a alma
não muda e não pode ser destruída,
ainda que seja suscetível de ser coberta pela
forma sutil ou abstrata da densidade material na forma
de nossa mentalidade passageira que é um presente
de Maya. Ela nos deu os sentidos para medirmos as coisas
prazeirosas para intensificar nossa posição
egoísta. As pessoas religiosas pensam que não
precisam satisfazer os sentidos destinados apenas a
iludir. Como por exemplo, estaremos iludidos se pensarmos
que o ar da atmosfera existe para nosso desfrute ou
para nos conceder prazeres temporários. Essa
mesma oportunidade irá embora para nos fazer
saber que não se destina a nosso bem.
Estamos
sujeitos a perturbações promovidas por
esses agentes obstrutores. Sua quantidade nos mostrará
que são mais numerosos que as coisas que podem
nos dar bem-aventurança –a única
coisa que deveriamos procurar. O pleno centro do êxtase
encontra-se no Supremo. Toda sensação
agradável deste mundo, se avaliada apropriadamente,
mostrará que serve apenas a objetivos temporários,
com o fim de obter nossos frutos mais adiante.
Esse é o plano do treinamento. Neste plano, estamos
sujeitos a supor que tudo existe para nos servir. Mas
a verdade é que existimos para servir ao Supremo
dentro das cinco diferentes capacidades. Somente quando
julgamos apropriado descer a este mundo para assenhorear-nos
de outras entidades finitas para nosso desfrute é
que acabamos esquecendo, até certo ponto, nossa
posição verdadeira. Esta contingência
surge quando queremos negar nosso Senhor. Por nosso
próprio desejo, essa tendência, que era
inata em nós, levou-nos a preferir esta região
temporal.
Estas
confusões emaranhadoras serão lentamente
removidas quando as verdadeiras sugestões chegarem
até nós ao encontrarmos pessoas conscientes
de nosso interesse.Pessoas otimistas tendem a evitar
tais pensamentos aparentemente pessimistas. Preferem
meter-se nos problemas. Mas deveríamos obter
o único refúgio no Absoluto.
A
recepção auditiva é o único
caminho que deveríamos seguir. Devemos estar
preparados para ouvir como viver uma vida pacífica
e aspirar pela bem-aventurança eterna do Absoluto,
e quem pode concedê-la. A menos que nos submetamos
a Ele, não há possibilidade de alcançar
a região eterna. De outro modo, estaríamos
multiplicando especulações que apenas
serão obstáculos.
Ao
invés de pretender ser um agente predominador,
deveríamos nos situar como agentes predominados
a fim de servir ao Supremo, a fonte de todas as coisas
manifestas; e todas as atividades deveriam tender a
Ele, sem esperar qualquer retorno comercial. Somos como
Filisteus avessos ao pensamento teológico. Existimos
para fazer dinheiro, ganhar fama e desfrutar de prazeres.
Esta é a propensão natural por aqui. Toda
esta propaganda relativista deve-se à aversão
ao serviço ao Absoluto. Portanto, deveríamos
emprestar nossa audição às descrições
sobre a Transcendência a fim de nos tornarmos
capazes de compreender como obter o verdadeiro fruto
da alma em vez de sermos desorientados pela mente. A
mente é como a procuradora da alma. Ela está
sempre em busca da expansão de seu próprio
interesse às custas do principal se pensar em
passar seus dias de modo indolente, quando será
naturalmente iludida pela mente. A alma adormecida precisa
ser desperta. O melhor uso de nossa inteligência,
prudência e desejabilidade deveria nos fazer progredir
rumo à vida eterna. Os prazeres temporários
com certeza nos trarão problemas a longo prazo.
Pergunta:
Qual é a diferença entre shanti
e ananda (paz e bem-aventuança)?
Resposta:
Os impersonalistas pensam que Deus deveria oferecer
um rasa neutro. Budha pensou que, ao final,
existe a cessação da percepção.
Shankaracharya argumentou que o Supremo não deveria
ter forma alguma, que não deveria haver qualquer
questão sexológica em relação
a Ele, que todos deveriam retornar ao Absoluto, que
não deveria haver diferença entre a alma
individual e o Supremo, sendo que as três situações
de observado, observador e observação
se mesclariam em um Brahman pleno de júbilo e,
ao mesmo tempo, desprovido de júbilo, inexistindo
nele qualquer distinção entre ambos. A
terceira escola é a escola devocional. Segundo
essa escola, tudo o que se encontra aqui, como árvores,
rios, montanhas etc., está presente no mundo
transcendental. Aqui, encontramos apenas entidades separadas
e, às vezes, estão desprovidas das centelhas
de Realidade.
Pergunta:
Por que o estudo da Filosofia não me traz paz
agora?
Resposta:
Porque escolhemos aderir à situação
miserável e não prestarmos atenção
ao Supremo.
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(Reprodução
da conversa com o Major Rana N. J. Bahadur em Armadale,
Darjeeling em 14 de junho de 1935. Originalmente publicada
na revista The Harmonist (Vol. XXXI, No.21)
de 27
de junho de 1935.)