"Rendição
não é apenas uma transação
verbal. Rendição significa
não apenas render nossas posses mas
realizar que as próprias posses são
falsas. Eu não sou o mestre de nada.
Eu não sou sequer mestre de mim mesmo.
Rendição significa dar tudo
ao Guru e nos livrarmos da conexão
não sagrada com tantas posses, de
modo que elas não nos perturbem,
sempre sugerindo: "Você é
meu mestre", e desse modo desorientando-nos."
– Srila Sridhar Dev-Goswami Maharaj
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Pouco
após o desaparecimento físico
de Srila Bhaktivinod Thakur, alguns de seus
discípulos pensavam que poderiam
continuar a avançar espiritualmente
apenas por referir-se a seus ensinamentos.
Contudo, isso contraria o siddhanta
e, portanto, Srila Bhaktisidhanta Saraswati
Thakur, seu filho e discípulo, escreveu
o seguinte artigo para chamar atenção
para esse desvio.
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Aproveitamos
a oportunidade oferecida pela Celebração
do Aniversário do advento de Thakur
Bhaktivinod para refletir a respeito do
método correto de obter aqueles benefícios
disponibilizados para a humanidade pela
graça desse grande devoto de Krishna.
Thakur Bhaktivinod foi especialmente bondoso
para com aquelas pessoas desafortunadas
que estão absortas em todos os tipos
de especulação mental. Essa
é a doença que prevalece na
era atual. Os demais acharyas que
apareceram antes de Thakur Bhaktivinod não
direcionaram seus discursos tão diretamente
aos pensadores empíricos. Eles foram
muito misericordiosos para com aqueles que
estão naturalmente predispostos a
ouvir os discursos a respeito do Absoluto
sem serem dissuadidos por argumentos paradoxais
de declarados oponentes do Supremo.
Srila
Thakur Bhaktivinod aceitou a difícil
tarefa de encarar os argumentos perversos
dos especuladores mentais com a lógica
transcendental superior da Verdade Absoluta.
Isso permitiu à média dos
leitores modernos lucrar com a leitura e
exame de seus escritos. Não está
longe o dia em que os valiosos volumes que
surgiram da pena de Thakur Bhaktivinod serão
reverentemente traduzidos pelos recipientes
de sua graça a todas as línguas
do mundo.
Os
escritos de Thakur Bhaktivinod proporcionam
a ponte dourada por meio da qual os especuladores
mentais podem com segurança cruzar
as águas furiosas das controvérsias
empíricas infrutíferas que
perturbam a paz daqueles que escolhem confiar
em sua orientação para encontrar
a Verdade. Tão logo o leitor favoravelmente
inclinado se encontre na posição
de ser capaz de apreciar a qualidade superior
da filosofia de Thakur Bhaktivinod, a plena
visão das escrituras reveladas do
mundo se abrirá automaticamente diante
de seus olhos reabilitados.
Contudo,
tem surgido sérios equívocos
com respeito à interpretação
apropriada da vida e dos ensinamentos de
Srila Thakur Bhaktivinod. Aqueles que supõem
ter compre-endido o significado de sua mensagem
sem ter garantido a graça orientadora
do acharya estão inclinados
a favorecer indevidamente os métodos
do estudo empírico de seus escritos.
Existem pessoas que conhecem de memória
quase tudo que ele escreveu sem serem capazes
de capturar sequer uma partícula
de seu significado. Tal estudo não
pode beneficiar aqueles que não estão
preparados para agir de acordo com as instruções
lucidamente transmitidas por suas palavras.
Não há possibilidade de honestamente
se perderem as advertências de Thakur
Bhaktivinod. Portanto, aqueles que estão
sendo enganados pelo estudo e exame de seus
escritos são desviados por sua própria
perversidade obstinada em ater-se ao curso
empírico, o qual preferem saborear
mesmo em contra de seus conselhos explícitos.
Deixemos que essas pessoas desafortunadas
analisem mais cuidadosamente seus próprios
corações em busca da causa
de seus infortúnios.
O
serviço pessoal ao devoto puro é
essencial para compre-ender o significado
espiritual das palavras de Thakur Bhaktivinod.
O Editor desta revista, iniciada por Thakur
Bhaktivinod, tem tentado chamar a atenção
de todos os seguidores de Thakur Bhaktivinod
para este que é o ponto mais importante
de seus ensinamentos. Não é
preciso que tentemos nos situar num patamar
de igualdade com Thakur Bhaktivinod. Provavelmente,
não nos beneficiaremos com qualquer
imitação mecânica de
qualquer prática de Thakur Bhaktivinod
sob o princípio oportunista de que
isso pode ser conveniente para nós.
O
Guru não é um mortal equivocado
cujas atividades podem ser compreendidas
pela razão falível da humanidade
não reabilitada. Existe uma linha
de demarcação que jamais pode
ser ultrapassada entre o Salvador e o salvado.
Somente aqueles que são realmente
salvos podem conhecer isso. Thakur Bhaktivinod
pertence à categoria dos mestres
espirituais mundiais que ocupam eternamente
uma posição superior.
O
atual Editor tem sentido o tempo todo ser
seu dever supremo tentar esclarecer o significado
da vida e dos ensinamentos de Thakur Bhaktivinod
pelo método do ouvir submisso do
Som Transcendental dos lábios do
devoto puro. O Guru que realiza o significado
transcendental de todos os sons encontra-se
numa posição de poder servir
ao Absoluto sob a direção
do Absoluto transmitida através de
cada som. O Som Transcendental é
o Supremo, o som mundano não é
o Supremo. Todo som tem essas aptidões
opostas. Todo som revela sua face Divina
aos devotos e somente apresenta seu aspecto
ilusório ao empiricista pedante.
O devoto fala aparentemente o mesmo idioma
que o empiricista pedante e iludido que
decorou o vocabulário das escrituras.
Mas, não obstante a aparente semelhança
no desempenho, um não tem acesso
à realidade, enquanto que o outro
está absolutamente livre de toda
ilusão.
Aqueles
que repetem os ensinamentos de Thakur Bhaktivinod
de memória não necessariamente
compreendem o significado das palavras que
repetem mecanicamente. Aqueles que podem
passar na prova empírica de seus
escritos não são necessariamente
almas auto-realizadas. Pode ser que desconheçam
completamente o verdadeiro significado das
palavras que aprenderam pelo método
do estudo empírico. Tomemos por exemplo
o nome "Krishna". Todo leitor
da obra de Thakur Bhaktivinod deve estar
consciente de que o Nome Se manifesta nos
lábios de Seus servos devotos ainda
que Ele é inacessível aos
sentidos mundanos. Uma coisa é passar
na prova reproduzindo esta verdadeira conclusão
dos ensinamentos de Thakur Bhaktivinod,
e outra coisa bastante diferente é
realizar a Natureza do Santo Nome de Krishna
pelo processo transmitido pelas palavras.
Thakur
Bhaktivinod não queria que nos dirigíssemos
ao recitador mecânico de sons mundanos
para obter acesso ao Nome Transcendental
de Krishna. Tal pessoa pode estar plenamente
equipada com todos os argumentos escritos
explicando a natureza do Nome Divino. Mas,
se ouvirmos todos esses argumentos de uma
fonte morta, as palavras apenas aumentarão
nossa ilusão. As mesmíssimas
palavras vindo dos lábios do devoto
terão um efeito diametralmente oposto.
Nosso julgamento empírico jamais
pode capturar a diferença entre os
dois desempenhos. O devoto está sempre
correto. O não-devoto, na forma do
empirista pedante está sempre necessariamente
errado. Num caso, a Verdade Substantiva
e nada a não ser a Verdade Substantiva
está sempre presente. No outro caso,
é a hipótese aparente
ou desorientadora e nada a não ser
a inverdade que está presente. O
palavreado pode ter uma mesma aparência
externa em ambos os casos. Os versos idênticos
das Escrituras podem ser recitados pelo
devoto e pelo não-devoto, mas os
valores correspondentes dos dois processos
permanecem categoricamente diferentes. O
devoto está certo até mesmo
quando aparentemente cita errado, e o não-devoto
está errado mesmo que cite corretamente
cada palavra, capítulo e verso das
escrituras.
O
conhecimento empírico não
é o objeto da busca do devoto. Aqueles
que lêem as escrituras para coletar
sabedoria empírica estarão
numa caça ao ganso selvagem. Não
são poucas as pessoas facilmente
enganadas por sua erudição
escritural empírica. Essas pessoas
crédulas contam com seus sub-crédulos
admiradores. Mas a sociedade de tolos que
se admiram mutuamente não escapa
do infortúnio pelo peso de seu número
devido a perseguirem deliberadamente o curso
errado de acordo com as sugestões
de nossos seres inferiores.
O
que são as Escrituras? Nada mais
do que o registro da Mensagem Divina feito
pelos devotos puros e que aparece nos lábios
dos devotos puros. A Mensagem transmitida
pelos devotos é igual em todas as
eras. As palavras dos devotos são
sempre idênticas às das escrituras.
Qualquer significado das escrituras que
minimize a função do devoto
que é o comunicador original da Mensagem
Divina contradiz sua própria declaração
ouvida. Aqueles que pensam que o idioma
sânscrito em seu sentido lexicográfico
é a linguagem da Divindade estão
tão iludidos como aqueles que mantêm
que a mensagem divina é comunicável
através de qualquer outro dialeto
falado. Todos os idiomas simultaneamente
expressam e ocultam o Absoluto. A face mundana
de todos os idiomas esconde a Verdade. A
face transcendental de todo som expressa
apenas o Absoluto. O devoto puro é
que pronuncia a linguagem Transcendental.
O Som Transcendental faz seu aparecimento
nos lábios de Seu devoto puro. Este
é o aparecimento direto e não
ambíguo da Divindade. Nos lábios
do não-devoto, o Absoluto sempre
aparece em Seu aspecto ilusório.
O Absoluto se revela no devoto puro em todas
as circunstâncias. Se a alma condicionada
estiver disposta a ouvir num espírito
verdadeiramente submisso, a linguagem do
devoto puro pode por si só impartir
o conhecimento do Absoluto. Ao escolher
emprestar seus ouvidos ao não-devoto,
a alma condicionada considera erradamente
que o ilusório é o aspecto
real. Esta é a razão porque
a alma condicionada é alertada a
evitar a associação dos não-devotos.
Thakur
Bhaktivinod é reconhecido por todos
seus seguidores sinceros como possuindo
os poderes acima mencionados de ser um devoto
puro do Supremo. Suas palavras devem ser
recebidas dos lábios de um devoto
puro. Se essas palavras forem ouvidas dos
lábios de um não-devoto, elas
certamente transmitirão uma impressão
falsa. Se suas palavras forem estudadas
à luz da própria experiência,
seu significado se recusará a revelar-se
a tais leitores. Suas obras pertencem à
categoria das eternas literaturas reveladas
do mundo e, para sua compreensão
correta, devem ser abordadas através
de sua exposição pelo devoto
puro. Se não se obtiver a ajuda do
devoto puro, as obras de Thakur Bhaktivinod
serão mal compreendidas de modo grosseiro
por seus leitores. O leitor atento dessas
obras descobrirá que está
sendo direcionado sempre a atirar-se sob
a misericórdia do devoto puro, se
não quiser ficar injustificadamente
auto-satisfeito pelos resultados ilusórios
de seu método de estudo equivocado.
Somente
a pessoa com quem o Acharya está
satisfeito de transmitir o seu poder encontra-se
na posição de ser capaz
de transmitir a Mensagem Divina. Isso
se constitui no princípio subjacente
da linha de sucessão de professores
espirituais. O Acharya assim
autorizado não tem outro dever
a não ser entregar intacta a mensagem
recebida de seus predecessores. Não
há diferença entre os pronunciamentos
de um Acharya e do outro. Todos
eles são mediuns perfeitos para
o aparecimento da Divindade na Forma do
Nome transcendental, Queé idêntico
à Sua Forma, Qualidade, Atividade
e Parafernália.
A
Divindade é Conhecimento Absoluto.
O Conhecimento Absoluto possui o carater
da Unidade indivisível. Uma partícula
de Conhecimento Absoluto é capaz
de revelar toda a potência da Divindade.
Aqueles que desejam compreender o conteúdo
de volumes escritos pelo método aquisitivo
em etapas, aplicável ao conhecimento
enganador disponível para a mente
no plano mundano, estão destinados
a se auto-enganarem. Aqueles que são
buscadores sinceros da Verdade são
os únicos elegíveis a encontrá-lO,
no –e através do– método
apropriado de Sua busca.
Ouvir
as palavras do devoto puro é absolutamente
essencial para poder situar-se no rastro
do Absoluto. A palavra falada do Absoluto
é o Absoluto. É apenas o Absoluto
que pode distribuir a Si Mesmo aos constituintes
de Seu poder. O Absoluto aparece ao ouvido
atento da alma condicionada na forma do
Nome nos lábios do sadhu.
Esta é a chave de toda a posição.
As palavras de Thakur Bhaktivinod direcionam
o pedante empírico a descartar seu
método e inclinação
equivocados no umbral da verdadeira busca
pelo Absoluto. Se o pedante ainda escolher
carregar seus erros para a Esfera da Verdade
Absoluta, ele apenas marcha por um caminho
secundário devido a seu estudo arrogante
das escrituras. O método oferecido
por Thakur Bhaktivinod é idêntico
ao objeto de sua busca. O método
não é realmente compreendido
exceto pela graça do devoto puro.
Os argumentos, na verdade, são esses.
Mas eles podem apenas corroborar e nunca
ser substitutos para a palavra que provém
da fonte da Verdade, que não é
outra a não ser o devoto puro de
Krishna, o Absoluto Pessoal concreto.
O
maior presente de Thakur Bhaktivinod ao
mundo consiste nisto: que ele trouxe o aparecimento
daqueles devotos puros que estão
atualmente levando adiante o movimento da
devoção pura aos Pés
de Sri Krishna por seu serviço espiritual
à Divindade o tempo todo. A pureza
da alma somente é descritível
analogamente por meio da fonte da linguagem
mundana. Para a pureza Transcendental perfeita
do devoto autêntico do Absoluto, o
maior ideal da moralidade empírica
não é melhor do que a mais
grosseira malignidade. A própria
palavra "moralidade" em si é
o nome errado e malvado quando aplicado
a qualquer qualidade da alma condicionada.
A satisfação hipócrita
com a atitude negativa é parte e
parcela do princípio da densa imoralidade.
Aqueles
que pretendem reconhecer a Missão
Divina de Thakur Bhaktivinod sem aspirar
pelo serviço incondicional àquelas
almas puras que realmente seguem os ensinamentos
do Thakur pelo método enfatizado
pelas escrituras e explicado por Thakur
Bhaktivinod de maneira tão eminentemente
apropriada às exigências da
mentalidade sofisticada da era atual, apenas
enganam a si mesmos e a suas vítimas
acordes por meio de suas profissões
e desempenhos hipócritas. Tais pessoas
não devem ser confundidas com os
membros genuínos do grupo.
Thakur
Bhaktivinod predisse a consumação
da unificação religiosa do
mundo pelo aparecimento da única
Igreja Universal que porta a designação
eterna de Brahma Sampradaya. Ele deu à
humanidade a garantia abençoada de
que todas as Igrejas teístas em breve
se fundirão numa única e terrena
comunidade espiritual pela graça
do Supremo Senhor Sri Krishna Chaitanya.
A comunidade espiritual não está
circunscrita às condições
do tempo, espaço, raça e nacionalidade.
A humanidade tem estado ansiando por este
evento divino distante por longas eras.
Thakur
Bhaktivinod disponibilizou a concepção
em sua forma espiritual praticável
para o empiricista de mente aberta que está
preparado para passar pelo processo de iluminação.
A pedra chave do Arco foi assentada, o que
concederá o abrigo necessário
a toda animação desperta sob
seus amplos braços envolventes. Aqueles
que impensadamente permitiriam que seu orgulho
vazio de raça, pseudo-conhecimento
ou pseudo-virtude ficasse no caminho desta
consumação há tanto
esperada, terão de dar graças
apenas a si mesmos por não terem
sido aceitos na sociedade espiritual de
todas as almas puras. Essas palavras plenas
não precisam ser mal representadas
pelas pessoas arrogantes que estão
cheias da vaidade da ignorância empírica,
como os pronunciamentos do sectarismo agressivo.
Os pronunciamentos agressivos da Verdade
concreta são a necessidade gritante
atual de silenciar a propaganda agressiva
de inverdades específicas que estão
sendo difundidas por todo o mundo pelos
prega-dores de invencionices empíricas
para melhoramento do penoso lote de almas
condicionadas. A propaganda empírica
se reveste da linguagem da abstração
negativa para iludir aqueles que estão
envolvidos na busca egoísta de desfrute
mundano.
Mas
existe uma função positiva
da alma pura que não deveria ser
perversamente confundida com qualquer forma
utilitária de atividade mundana.
A humanidade precisa dessa função
espiritual positiva, a qual é absolutamente
ignorada pelos impersonalistas hipócritas.
A função positiva da alma
harmoniza as demandas de extremo egoísmo
com aquelas de extrema auto-abnegação
na sociedade das almas puras, mesmo neste
mundo mundano. Em sua forma concreta e realizável,
a função é perfeitamente
inacessível à compreensão
do empirista. Sua concepção
imperfeita e desorientadora fica disponível
apenas para a alma condicionada que estuda
as escrituras sem ser auxiliada pela graça
sem causa dos devotos puros do Supremo.
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Ensaio
publicado pela primeira vez na revista The
Harmonist, em dezembro de 1931, vol. XXIX,
Nš 6